A ópera já fazia barulho na Europa quando começou a ter destaque aqui no Brasil. Em São Paulo, o primeiro espaço do gênero foi a Casa da Ópera, de 1763. Depois vieram o Teatro de Ópera, o Teatro Santana, o Teatro Politeama e muitos outros. Nenhum deles tinha a imponência das casas europeias até que, em setembro de 1911, foi inaugurado o Theatro Municipal. Hoje o prédio passa por uma série de reformas e deve ser aberto ao público novamente até abril. A diretoria faz mistério sobre a programação do ano e as comemorações do centenário, mas garante que há muitos artistas nacionais e internacionais escalados.
“São Paulo passou de cidadezinha a metrópole por causa dos barões do café, e o Municipal foi criado, em grande parte, para eles. A cidade tinha umas dez mil pessoas e o teatro, uns 1.500 lugares. Era uma construção grande para a época”, conta Sergio Casoy, pesquisador de música lírica e autor de Ópera em São Paulo 1952-2005 (Edusp). Já que era planejado para a elite, o prédio foi erguido com tudo do bom e do melhor: vitrais alemães, colunas de granito da Itália, espelhos da Bélgica. Um verdadeiro monumento para aqueles que queriam assistir aos espetáculos, mas também para os que queriam ser vistos. No dia da inauguração, o que mais chamou a atenção da imprensa foram as roupas e as joias das senhoras.
Segundo Casoy, a cerimônia teve como atração o maior barítono do mundo na época, o italiano Titta Ruffo. Toda a alta sociedade fez questão de comparecer, chegando em seus carros. Como resultado, houve mais uma estreia: o primeiro engarrafamento de que se tem notícia na cidade. “Foi tudo meio improvisado. Quando o prédio ficou pronto, ainda não tinha orquestra, coro, corpo de baile. E tinha defeitos gravíssimos de acústica e pontos cegos”, conta Casoy. As obras iniciadas em junho de 2008 devem resolver grande parte desses problemas. Pelo menos é o que se espera, já que as duas grandes obras anteriores não resolveram.
A parte técnica não é a única preocupação. Assim como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, reaberto em 2010, e o Theatro Municipal de Ouro Preto, em 2007, a casa paulistana passou por restaurações. Foram tratadas a fachada, algumas pinturas internas originais e partes do telhado que nunca tinham sido reparadas. De acordo com a arquiteta Rafaela Bernardes, coordenadora da restauração, uma das partes mais complicadas do trabalho foi o tratamento dos vitrais. “Demoramos dois anos. Eram vinte e cinco conjuntos, e só os internos, do salão nobre, tinham duzentas peças. Desmontamos tudo para substituir ou pintar os vidros”, ela explica. Outra parte trabalhosa foi a restauração das pinturas do salão onde funcionará um restaurante. Com uma foto dos anos 1950, os técnicos conseguiram recriar as imagens já apagadas. Depois de quase três anos de obras, o Theatro Municipal está voltando a ter o mesmo glamour da noite de estreia.
Na mira dos binóculos
Cristina Romanelli