“Eu só boto bebop no meu samba / quando tio Sam pegar o tamborim / Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba / Quando ele aprender que o samba não é rumba”. É por esse espírito bem-humorado e ao mesmo tempo crítico em músicas como “Chicletes com banana” que ficou conhecido Gordurinha, nome artístico de Waldeck Luiz Macedo (1922-1969). O cantor e compositor baiano é o homenageado de julho no programa Os Batutas, que vai ao ar na Rádio Batuta, projeto para internet do Instituto Moreira Salles (IMS).
Os Batutas é um programa produzido e apresentado pelo curador de música do IMS, Joaquim Ferreira dos Santos. A cada mês, ele e Luiz Fernando Vianna, coordenador da Rádio Batuta, escolhem um artista da música brasileira que terá sua trajetória lembrada através de informações sobre sua vida e canções tocadas durante o programa. “Nós temos 20.000 fonogramas com quase tudo o que foi registrado da música brasileira desde a primeira gravação no início do século XX até a década de 1960”, ressalta o apresentador. Esse material integra um acervo musical ainda maior do IMS, que conta com 100 mil músicas, incluindo produções mais recentes e outras que vieram de coleções pessoais, como a da pianista e compositora Chiquinha Gonzaga e a do pesquisador José Ramos Tinhorão. Deste acervo, 28 mil canções já foram digitalizadas e estão disponíveis no site do Instituto.Para o programa que vai ao ar no dia 7 de julho, estão confirmadas as composições mais conhecidas de Gordurinha, como “Orora analfabeta”, “Mambo da Cantareira” e “Vendedor de caranguejo”, além de “Súplica cearense”, que foi regravada pela banda O Rappa em 2008. “Esta música faz denúncias sobre a situação do nordestino, que já naquela época [1960] sofria pela seca, pelo abandono dos cofres públicos, entre outros”, explica Joaquim Ferreira dos Santos. “Baiano burro nasce morto”, comenta, “trata-se de um protesto com muito bom humor sobre o preconceito em relação ao baiano”.Nascido no bairro da Saúde, em Salvador, em 10 de agosto de 1922, Gordurinha teve uma formação cultural e intelectual diferente daquela da maioria dos cantores nordestinos de sua época. Chegou a cursar os três primeiros anos de Medicina, mas abandonou a formação para dar prioridade à carreira artística. “Gordurinha marcou muito pela qualidade e pela inteligência exacerbada”, comenta o musicólogo Ricardo Cravo Albin, acrescentando que o compositor era “extremamente palhaço”, a começar pela escolha do nome artístico, que é uma piada. “Ele era muito magro, um fiapo de gente”, completa Albin.
Nordeste na veia
Déborah Araujo