Na periferia, violões e cavaquinhos, no coração da orquestração, instrumentos de percussão. Arranjos como este, à primeira vista impraticáveis, foram executados com maestria e mais de uma vez por Pixinguinha. A contribuição de Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973) à música brasileira se faz não apenas por obras-primas como “Carinhoso”, “Rosa” e “Lamentos”: das quase 10 mil páginas de partituras do músico sob a guarda do Instituto Moreira Salles, a maioria é de arranjos. E, desde abril deste ano, outros 69 deles foram revelados com o lançamento das caixas de partituras Pixinguinha: outras pautas e O Carnaval de Pixinguinha.
O trabalho de pesquisa teve início em 2009, logo que a compositora Bia Paes Leme entrou para a equipe do IMS. Pelo volume de documentos, a pesquisadora explica que publicações como essas acontecem aos poucos. “É um trabalho constante, não paramos, e vamos publicando na medida do possível, até pelo alto custo de cada lançamento”, avalia. No ano seguinte saiu a primeira publicação: Pixinguinha na pauta. Em 2012,Pixinguinha inéditas e redescobertas.Partindo do mesmo acervo, Pixinguinha: outras pautas é uma continuação do trabalho lançado em 2012, com mais 25 arranjos do instrumentista.
O Carnaval de Pixinguinha tem como base os registros do programa “O Pessoal da Velha Guarda”, transmitido pela rádio Tupi a partir do final dos anos 40, sob o comando de Henrique Foréis Domingues, conhecido por Almirante (1908-1980). Era Pixinguinha quem elaborava os arranjos para o programa. Segundo o compositor Paulo Aragão, que assina a pesquisa das caixas, o termo “carnaval” está bem colocado. “Essa coleção tem uma coisa festiva, da rua. Era um carnaval diferente, ligado aos desfiles nas ruas. Pixinguinha, inclusive, foi diretor de ranchos carnavalescos, os antecessores das escolas de samba”, explica. O maestro também teve importância na construção do samba como conhecemos hoje. “Ele tinha formação musical muito sólida, trabalhava até em orquestras de cinema. Mas vinha do choro e conhecia as bandas da rua”, diz Aragão. Essa mistura do erudito com o popular marca também seus arranjos. É Pixinguinha “quem coloca a percussão no centro da sonoridade, e junta os vocais musicais que existiam no Rio”, segundo o pesquisador.
Para lançar as duas caixas de partituras, o Instituto Moreira Sales promoveu o show Outras pautas – Pixinguinha em concerto, no Teatro João Caetano, em setembro. “É um privilégio poder ouvir de novo músicas que soaram há 60, 70 anos atrás”, celebra Paulo Aragão.
Nos arranjos, Pixinguinha
Angélica Fontella