Novos Machados

Igor Mello

  • Estamos em pleno centenário da morte de Machado de Assis. O maior escritor brasileiro está por todos os lados. Difícil fugir do lugar-comum das homenagens. Mas a Biblioteca Nacional topou o desafio. Depois de um ano e meio de trabalho, ela inaugura no próximo dia 23 a exposição “Machado de Assis: 100 anos de uma cartografia inacabada”. 

    O curador Marco Lucchesi encara o evento como uma espécie de estímulo aos estudiosos do futuro. “Usei muita coisa do que foi feito em exposições passadas, como no centenário de nascimento dele, por exemplo. Isso explica o título escolhido, já que há muitas boas biografias sobre essa figura tão importante, mas nenhuma delas é integral. Esse trabalho é como se disséssemos aos pesquisadores do futuro: ‘Isso foi o que pudemos fazer em 2008. Sigam em frente!’”

    A idéia é agradar a todos os públicos. “Nossa intenção é olhar Machado por lentes que respeitem sua biografia, mas com uma perspectiva contemporânea. Creio que esta é uma exposição que agrada a estudantes mais jovens, universitários e estudiosos, trazendo também temas que são conhecidos, mas que ficam restritos aos círculos acadêmicos, como o mito de que Machado não teria se interessado pela escravidão”, afirma. “Acho que a reação do público será emocionada, pois procuramos escolher como textos-guias passagens perenes ou atuais”, conta Marco, recusando-se a revelar mais detalhes: “Não quero estragar as surpresas”.

    Segundo o curador, uma das particularidades da exposição é o equilíbrio entre uma dimensão biográfica e “um Machado mais humano e político, que se posicionava e debatia temas publicamente”. Ele também sublinha a preocupação de que não sejam reproduzidos alguns mitos infundados: “Era preciso bater em alguns fantasmas absurdos! Uma coisa que desmentimos, por exemplo, é a crença de que os pais de Machado não tinham nenhum conhecimento. Existem registros de que o pai dele tinha uma assinatura de enciclopédia”. 

    As quase duzentas peças reunidas – entre jornais da época, primeiras edições, fotografias e ilustrações – foram divididas em dois grupos: “De um lado, temos os aspectos temáticos, como a relação de Machado com a música ou com o xadrez. Do outro, a parcela biográfica, do nascimento até a morte”, explica. Ele também ressalta que a melhor maneira de se conhecer intimamente Machado é por meio de seus textos. Muitos deles serão reproduzidos na exposição. “Alguns serão reconhecidos de cara, mas outros são partes menos conhecidas do grande público”.

    Mas para Marco, o grande diferencial da exposição é o acervo da Biblioteca Nacional. “Ele é único e nos proporciona coisas às quais todo curador gostaria de ter acesso. Fizemos inclusive algumas descobertas em álbuns da época”. Descobertas? Marco desconversa. “Posso antecipar que não é nada revolucionário, mas são coisas importantes”. Não adianta nem insistir. “Para conferir, só indo à exposição”, brinca.