O barato do Chacrinha

  • A cena é a seguinte: no palco de seu “cassino”, Chacrinha apresenta o jovem “cantor mascarado”. Na verdade, o já famoso Roberto Carlos. Em seguida, aparece o desafinado Manoel de Jesus. Sem papas na língua, o ex-calouro decreta: “Roberto Carlos é uma bosta, só tem nome. Não canta igual a mim”. Como no circo armado pelo Velho Guerreiro, artistas consagrados e outros nem tanto se exibem em “Alô alô Teresinha”, documentário de Nelson Hoineff que estreia nos cinemas em 30 de outubro.

    O diretor adverte o público que não deve ir esperando assistir a uma biografia do mais célebre apresentador de programas de auditório do Brasil. “O filme trata mesmo é do seu universo. Ele aparece como centro de uma constelação que girava ao seu redor e incluía calouros, cantores, jurados, ex-chacretes”, diz Hoineff. Na montagem, imagens das décadas de 1970 e 1980 são intercaladas de depoimentos recentes, num formato que tenta recuperar a irreverência e o deboche do programa. “A ideia era mesmo usar a linguagem do próprio Chacrinha”, afirma o diretor.

    Em tempos politicamente corretos, algumas cenas podem surpreender. Especialmente aquelas que mostram as antigas assistentes de palco. Na disputa para saber quem “pegou” mais homens, Vera Furacão lembra que chegou a ver Chico Buarque pelado, mas “ele estava tão bêbado que não rolou nada”. A Índia Potira revela que, naquela época, todas faziam “programas”, o que ninguém confirma. E lá pelo meio do filme, ela ainda dança nua num chafariz no centro de Paraíba do Sul, cidade do interior do estado do Rio. Hoineff acha que esses registros acabam humanizando as personagens. “Quando você fala de chacrete, a primeira coisa que vem à cabeça é um bando de mulheres gostosas. Só que elas têm sua própria história, com dramas, alegrias, tristezas. O documentário mostra exatamente isso”, completa. 

    Nelson Hoineff – diretor de programas televisivos como o “Documento Especial”, da antiga TV Manchete – aposta em produções provocadoras. Em janeiro de 2010, estreia outro filme que segue pelo mesmo caminho: “Caro Francis”, sobre o polêmico jornalista Paulo Francis. “A grande diferença é que Francis era um dos meus melhores amigos. E o Chacrinha, só vi de passagem num hall de elevador.  Mas os dois eram transgressores, desafiavam os padrões éticos”, compara o diretor.