Há quem considere Giorgio Vasari (1511-1574) o pai do Renascimento. Afinal, foi o arquiteto e pintor italiano quem definiu o conceito de rinascita – período de três séculos em que a Europa saía da Idade Média e recuperava suas raízes artístico-culturais clássicas rumo à modernidade. Em 2011, exposições em homenagem aos 500 anos do nascimento do historiador correm o mundo, da Itália ao Brasil. Por aqui, uma das celebrações acontece na mostra "Giorgio Vasari e a invenção do artista moderno", que será inaugurada no final deste mês no salão de eventos da Biblioteca Nacional.
O objetivo desta exposição é transmitir a essência do pensamento renascentista e, para isso, irá reunir gravuras e ilustrações de mais de 80 livros publicados, entre os séculos XIV e XVIII, que foram influenciados pelos escritos de Vasari. Também estará em exibição uma preciosidade: a primeira edição de Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos, de 1568. Nesse volume, o autor descreveu o que veio a ser conhecido como Renascimentoe escolheu seus protagonistas: iniciou em Giotto di Bondone (1266-1337) e chegou ao ápice em Michelangelo (1475-1564).
Selecionadas pela historiadora da Arte Elisa Byington, as peças pertencem ao acervo da BN. “Devemos a Vasari todos os conceitos que explicam o que foi o Renascimento. Alguns estudiosos sustentam que a História da Arte não passa de notas de rodapé de sua obra”, comenta a curadora. Byington conta ainda que a ideia de fazer a exposição surgiu quando morava na Itália. Lá, ela começou a pesquisar sobre as obras do artista disponíveis no Brasil, encontrando uma coleção muito rica na biblioteca. “Há exemplares de livros de praticamente todos os pintores importantes do período. Vidas é um marco na História da Arte, e os próprios especialistas no assunto não sabem que essa primeira edição existe aqui”, acrescenta.
Maria Berbara, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, concorda com Elisa e diz que “o acervo da BN é pouco conhecido entre estudiosos do Renascimento, apesar de ter autênticas pérolas daquela época”. Ela, assim como a curadora da mostra, participará de outro tributo ao pintor italiano neste mês: o VII Encontro em História da Arte da Universidade de Campinas. Uma ampla discussão historiográfica acerca da obra e do legado de Vasari fará parte da programação do evento. “Será incluída uma investigação sobre a recepção dos escritos vasarianos no âmbito latino-americano”, complementa Maria.
O debate gerado em virtude dos 500 anos do artista anima outros especialistas no assunto. João Masao, por exemplo, professor da PUC-Rio, diz que o tema deve despertar também a atenção do mercado editorial: “Talvez incentive nossas editoras a publicá-lo em uma edição à altura de sua importância, como aconteceu com outros artistas do período”. Segundo ele, isso seria um grande presente à população brasileira, que “merece e precisa conhecer esse trabalho fundamental”.
O inventor do Renascimento
Alice Melo