O passado guardado por Deus

  • Uma parceria da Universidade Católica de Salvador (UCSAL) com a Arquidiocese da capital baiana pretende recuperar o acervo da Cúria Metropolitana da Cidade de Salvador, que estava guardado em condições precárias de conservação desde sua criação, no século XVI. O Laboratório de Restauro, vinculado aos cursos de História e História com Habilitação em Patrimônio Cultural da UCSAL é o responsável pelo trabalho de restauração. Segundo a coordenadora do Laboratório, Venétia Durando Braga, cerca de 12 mil documentos compõem o acervo, entre livros, fotografias, manuscritos e, principalmente, registros de batismo, casamentos e óbitos dos séculos XVI a XIX Após o restauro, todo o material retornará à Cúria, que é o que faz dele o arquivo teológico mais antigo da América Latina. Além da preservação do patrimônio, a iniciativa permitirá que a população da cidade tenha acesso a documentos de seus antepassados. “O acervo arquivístico, seja ele qual for, é importante para a comunidade. Muitas pessoas vão à igreja para conseguir dupla cidadania ou reivindicar terras, por exemplo”, diz Venétia, destacando o fato de que no período que antecede a República, só a Igreja poderia comprovar a filiação das pessoas. “As famílias escravas eram reféns dos arquivos eclesiásticos porque esse tipo de registro, inclusive dos negros libertos, não interessava ao Estado. Já a Igreja precisava desses documentos para ter controle sobre os fiéis. Por isso, os registros paroquiais são o único elo para que os descendentes de escravos reencontrem a sua origem”, explica a coordenadora. O documento mais antigo do acervo é um registro de óbito datado de 1578. Pelas ações do tempo e da má conservação, não é possível identificar o nome da pessoa.