O ano é 1889. O marechal Deodoro da Fonseca decide proclamar a República. “Não faça isso!”, grita de repente um homem que acaba de chegar do futuro. Ele tenta convencê-lo de que é melhor manter a Corte no poder: “Na Monarquia, vai ser só um roubando, e não uma Brasília inteira!”. No ar desde abril, o quadro “Viajante do Futuro”, do programa “Zorra Total”, da Rede Globo, já interferiu de maneira cômica em vários momentos históricos. Junto com ele, outras produções estão deixando as telinhas mais voltadas para o passado. Além dos programas regulares, a TV Brasil deve transmitir este ano dez episódios sobre a história do país, produzidos pela Conspiração Filmes. E o diretor Eduardo Escorel planeja lançar em 2011 cinco documentários sobre o Estado Novo na TV Cultura.
A série de documentários “1937-45. Imagens do Estado Novo” mostra os principais acontecimentos desde o golpe de 1937, quando Getulio Vargas assume o governo, até o golpe em que é derrubado, em 1945. A narrativa é baseada em diários e na correspondência do presidente. Segundo o diretor Eduardo Escorel, a pesquisa nacional foi feita em cinematecas e arquivos de famílias. Já no exterior, a equipe buscou material principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. “Nunca tínhamos visto o acervo alemão. Tem imagens da bandeira nazista desfilando em Blumenau e no Rio”, conta o diretor. Os documentários já estão editados, e o próximo passo é conseguir a cessão de direitos das imagens.
A série produzida pela Conspiração Filmes – que contou com a consultoria da RHBN – deve se chamar “Histórias do Brasil” e ir ao ar ainda este ano na TV Brasil. A ideia é contar a história do povo brasileiro desde antes do Descobrimento, mostrando mudanças de hábitos e comportamentos. “Sentimos falta de um programa que misturasse entretenimento e História. Os dez episódios misturam documentário com encenações dramáticas, feitas por atores”, afirma Renato Fagundes, supervisor do roteiro.
Este não é o primeiro programa sobre História na TV Brasil. Há dois anos na grade da emissora, o “De lá pra cá” fala sobre personalidades importantes e temas inusitados, como a história do pão francês no país. Já o History Channel inseriu este ano na grade regular sua primeira produção nacional. “Detetives da História” desvenda mistérios por trás de objetos que passaram anos escondidos, desde óculos que teriam pertencido a Lampião até uma espada que pode ter sido usada na Guerra do Paraguai.
Para alguns historiadores, apesar das mudanças, a TV brasileira continua deixando a desejar. “As pessoas não têm consciência da importância da memória do país. Acho que a programação continua fraca”, diz Antônio Edmilson Rodrigues, da PUC-Rio. Com os novos formatos originais das produções mais recentes, a esperança é que a História se dissemine na grade e atraia um público cada vez mais variado. Ainda que por meio de um viajante do futuro estilizado.
“De lá pra cá” (TV Brasil)
Domingos, às 18h, com reapresentação as sextas, às 20h30.
O passado na telinha
Cristina Romanelli