O registro do pintor

Déborah Araujo e Fernanda Távora

  • Da infância até a vida adulta, os álbuns digitalizados perpassam toda a vida de Iberê Camargo, mostrando uma face desconhecida do pintor. (Divulgação)Pintor, gravurista, professor, Iberê Camargo (1914-1994) foi um dos maiores nomes da arte brasileira do século XX. Em 2014, em comemoração ao seu centenário de nascimento, a fundação porto-alegrense que leva seu nome promove um projeto para mostrar o homem por trás da obra. É a digitalização de seis álbuns de família, além de cartas, recortes de jornal e outros itens da vida de Iberê. “As fotografias cobrem toda a vida do artista, e também imagens de tios, avós e amigos. O acervo total contabiliza mais de 6 mil fotografias”, ressalta Alexandre Demétrio, coordenador do Acervo Documental da Fundação.

    Os registros, cedidos pela viúva do artista, Maria Coussirat Camargo, falecida em fevereiro deste ano, foram retirados dos álbuns por meio de uma técnica utilizada para preservar sua qualidade. Foram usadas espátula e bisturi para conseguir descolar as fotos sem danificá-las. Logo depois, receberam um acondicionamento em papel de pH neutro e em pastas de poliéster, processo que estabiliza a degradação das imagens. Os álbuns em si foram igualmente registrados e também farão parte do acervo.

    Um hotsite, criado para o Acervo de Obras e Documental da Fundação Iberê Camargo, será o destino das imagens digitalizadas. Assim será possível acompanhar uma narrativa sobre a vida do pintor, que se inicia ainda em sua infância e segue o desenvolvimento de suas obras. Algumas fotos têm anotações da época em que foram tiradas, outras carregam a caligrafia de Iberê.

    “O projeto contempla a exibição dos documentos que tiverem relação com obras da coleção e das exposições. Posteriormente, os outros conteúdos poderão ser apresentados”, acrescenta Demétrio. Entre as fotos há imagens da infância do artista, do jovem Iberê praticando boxe, e também fotos com alunos, professores e personalidades, como o  gravador Oswaldo Goeldi.

    Para o crítico e curador de arte Luiz Camillo Osório, além de coerente e de uma qualidade indiscutível, o trabalho de Iberê une a pintura abstrata e a pintura figurativa, representando temas e objetos, enquanto procura expressar algo mais. “Isso se impõe pela força da sua forma e da sua expressividade”, argumenta, lembrando a oportunidade de se conhecer mais sobre a vida do artista, cujas séries mais conhecidas são “Os carretéis”, “Ciclistas” e “As idiotas”.