O senhor dos mares

Adriano Belisário

  • Além de euforia, muita preocupação jorra do oceano a cada reserva petrolífera perfurada sob o Atlântico. A importância estratégica dessas descobertas deixa em alerta os responsáveis pela defesa nacional. Não é uma tarefa simples: sob a responsabilidade da Marinha estão 4,4 milhões de quilômetros quadrados de mares – o equivale a mais da metade da porção terrestre do país.

    Até 2021, o resguardo desta imensidão pode contar com um poderoso aliado: o primeiro submarino nuclear brasileiro. Seria a realização de um antigo desejo da Marinha. O projeto existe desde 1979, porém, devido a uma mudança de orientação política no governo Itamar Franco, permaneceu em estado quase vegetativo até 2007, quando foi anunciado o investimento de R$ 130 milhões por ano.

    Como estratégia naval, o submarino nuclear tem o trunfo de operar de modo oculto. Modelos movidos a diesel são obrigados a subir à superfície periodicamente para aspirar o ar atmosférico e garantir o funcionamento dos motores. Nesse momento, ficam visíveis nos radares. Os nucleares, por sua vez, podem permanecer submersos durante anos, além de terem maior mobilidade. “Eles chegam a qualquer lugar em pouco tempo. Na equação do oponente, isto significa poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O submarino nuclear é simplesmente o senhor dos mares”, explica o contra-almirante Wellington Liberatti, coordenador do Programa de Submarinos da Marinha.

    O governo garante que a retomada do submarino nuclear não tem relação com qualquer plano belicista. A idéia é utilizá-lo principalmente como instrumento de dissuasão, afastando a possibilidade de intervenções estrangeiras em nossos mares. Até porque seu sistema de armas não permite o ataque a alvos em terra e, ao contrário do combustível, não inclui tecnologia atômica, pois o Brasil é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. A adesão ao pacto ocorreu no governo de Fernando Henrique Cardoso, e hoje muitos a consideram um erro. É a opinião do cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da UFF. “Alguns dos principais países não assinaram esse tratado, como a China, a Índia e a Rússia. O Brasil renunciou à sua soberania ao assiná-lo. Quando você nega a si mesmo a capacidade de ser igual, assume a sua inferioridade”, critica.

    A parte nuclear da embarcação o Brasil já domina. Mas para construir o resto, precisará de ajuda. O desenvolvimento do casco será possível graças a um acordo com a França, um dos poucos países que detêm esta tecnologia. Segundo Leonam dos Santos, ex-coordenador do Programa de Propulsão Nuclear do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, a parceria com os franceses é bem-vinda, por se tratar de “uma potência cujos interesses geopolíticos são limitados, não tendo aspirações a um controle global dos mares”.

    Além do nuclear, o acordo inclui quatro submarinos convencionais. A previsão é que o primeiro deles esteja pronto em 2014. O local escolhido para a construção dos submarinos foi a Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Entre outros motivos, por sua proximidade com as usinas nucleares de Angra dos Reis.