O tempo e suas possibilidades

Déborah Araujo

  • Mariana, 2007. Na histórica e culturalmente rica cidade mineira, alguns pesquisadores buscam criar um espaço de reflexão para compreender como se constrói a experiência dos homens no tempo. Assim surgiu o Núcleo de Estudos em História da Historiografia e Modernidade da Universidade Federal de Ouro Preto (Nehm/Ufop). No mesmo ano, o grupo promoveu o primeiro Seminário Nacional de História da Historiografia. Em 2014, o congresso chega à sua 8ª edição, nos dias 18 a 21 de agosto, sobre as variedades do discurso histórico, além da escrita e da ciência histórica – como cinema, música, arquitetura, museus, entre outras – e as suas possibilidades.
     
    Produções atuais, como os documentários e os filmes históricos Sobrevivi ao Holocausto, Getúlio e Brasil no olhar dos viajantes, são mais do que formas de conhecer a História através do entretenimento. “Um filme, além de informar o contexto de produção, condições e detalhes técnicos, é o meio pelo qual podemos perceber noções de como experimentamos o tempo, sobretudo a relação passado-presente”, explica a professora Helena Mollo, organizadora do Seminário. 
     
    As variadas formas de discurso também permitem pensar maneiras de transmitir e explicar o conhecimento histórico para a sociedade, principalmente para gerações mais novas. Este tema é tratado pela professora Sônia Miranda, da Universidade Federal de Juiz de Fora, que dará um dos quatro minicursos do Seminário. “Levar uma criança ou um adolescente – que vive sob o signo de um tempo acelerado – a perceber e a compreender a mudança temporal é um desafio didático de grande complexidade e que envolve muito cuidado reflexivo por parte do professor.
     
    Educar para a compreensão dessa dinâmica do conhecimento é muito mais do que ensinar fatos e acontecimentos do passado. É formar atitudes de pensamento essenciais ao estar no mundo numa sociedade que, mais do que nunca, precisa refletir sobre seu presente e sobre os seus horizontes de futuro”, explica Sônia.
     
    Além dos minicursos, o Seminário também traz 16 simpósios temáticos. Um deles, organizado todos os anos pelo professor de História da Ufop Valdei Araujo, apresenta ao público uma análise sobre as aproximações e os conflitos entre um modelo disciplinar e institucional de historiografia e outro mais voltado para os leitores consumidores – que se articula com interesses do mercado editorial e políticos. “Acredito que a tensão, muitas vezes produtiva, entre esses dois modos de produção do discurso historiográfico é um fenômeno que desponta no século XVIII e continua até hoje”, explica Araujo. “Quando falamos em uma história escrita por jornalistas e outros ‘não historiadores’, estamos tangenciando esse campo de problemas.” 
    O Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP (acima) recebe a oitava edição do seminário. (Foto: Diana Poepcke)