Onde a vida vale mais

Angélica Fontella

  • Uma briga entre detentos, a ordem para a PM invadir, o saldo: 111 pessoas assassinadas. Era o Massacre do Carandiru, em 2 de outubro de 1992. Hoje, na região que abrigava o complexo penitenciário, fica o Parque da Juventude, um dos 22 marcos selecionados pelo projeto “Cartografia de Direitos Humanos de São Paulo”. A iniciativa promoveu, ao longo do ano, oficinas e exposições em dois campi da Universidade de São Paulo (USP) e na Procuradoria Regional da República da 3ª Região. E, no dia 4 de novembro, inaugurou uma plataforma digital reunindo os dados da pesquisa e disponibilizando um mapeamento de símbolos dos direitos humanos na capital paulista.

    A proposta nasceu na Cátedra Unesco de Educação para Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, com sede no Instituto de Estudos Avançados da universidade (IEA-USP). “Vimos a necessidade de levar a pauta de direitos humanos para fora da universidade e com linguagem mais sedutora”, explica Rossana Rocha Reis, integrante da Cátedra, professora de Teoria Política da USP e coordenadora do trabalho. A intenção é sensibilizar as pessoas, atraindo sua atenção para o tema. “Conseguimos passar quantitativos aos alunos, mas é difícil fazê-los compreender a dimensão do que aconteceu, pois parece muito distante das suas realidades”, comenta.

    Tomando por base experiências como o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, no Chile, Rossana Reis, Rafael Borsanelli, chefe da Divisão de Comunicação do IEA-USP, e outros 13 profissionais conduziram o trabalho abarcando diferentes áreas do conhecimento, como História, Sociologia, Urbanismo e Jornalismo, além de expressões artísticas, como fotografia e artes plásticas. “A fotografia contribui para tirar da invisibilidade pessoas e fatos”, diz o fotógrafo André Bueno, integrante do projeto e curador da exposição que marcou o lançamento do site, em cartaz no Centro Universitário Maria Antônia (USP) até o final do mês.

    A página disponibiliza entrevistas em vídeo com militantes e ativistas dos direitos humanos e apresenta uma cartografia, marcando cenários associados ao tema na cidade.  Entre eles as escadarias do Teatro Municipal, onde aconteceu a manifestação de julho de 1978 que levou à fundação do Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, e a Catedral da Sé, palco do Ato Ecumênico de 1975, na primeira grande manifestação contra a ditadura civil-militar. Os marcos estão divididos em oito roteiros, número que deve crescer a partir de sugestões. Vantuil Pereira, diretor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (NEPP-DH), destaca o papel desse trabalho para a memória: “Demarcar espaços urbanos de luta pelos direitos humanos é materializar a memória através de monumentos enquanto história, resistência e afirmação de trajetórias políticas”.

    Acesse o site: www.cartografiadh.iea.usp.br