Quando a Biblioteca Nacional fecha e as luzes são apagadas, os usuários costumeiros “passam o turno” para um grupo de leitores que não faz exigências aos funcionários. Esses freqüentadores têm a liberdade de vagar por todos os cantos da casa, escolhendo livros, periódicos e microfilmes que lhes agradem. Passam a madrugada lendo e, assim que o dia sai, voltam aos cantos de onde não podem ser vistos. Normalmente, não deixam um único vestígio... São os fantasmas da BN.
Os seis andares dos armazéns da BN são repletos de histórias de pessoas que viram vultos ou ouviram barulhos estranhos. José Augusto Gonçalves – funcionário há 24 anos – é referência na Biblioteca quando o assunto é fantasma. Gonçalves diz vê-los diariamente às sete da manhã, ao acender as luzes das salas de leitura. Conta que, à sua chegada, costumam estar sentados, lendo comportadamente. Em um piscar de olhos, somem.
Mas não é apenas pela manhã que os vultos aparecem. Certa noite, no depósito, as luzes se apagaram. Gonçalves e outro funcionário começaram a sair calmamente, quando viram, ao mesmo tempo, um vulto brilhante que pairava no ar. Correram de medo. Rosilda – uma funcionária espírita – zombou da história e foi ao depósito checar. Voltou quase catatônica e nunca mais tocou no assunto.
Nos armazéns, as aparições são mais comuns. Gonçalves conta que passou meses organizando exemplares do jornal O Globo. Quando terminou, deu um grito de alívio e, ao olhar para o lado, viu um senhor careca terno preto, observando-o. Em questão de segundos, a figura sumiu, mas Gonçalves garante: “Parecia ser o dr. Roberto Marinho”. De fato, na época, Roberto Marinho acabara de falecer.
Agua benta contra fantasma
A aparição mais comentada na BN, no entanto, aconteceu no anexo da instituição, na zona portuária do Rio de Janeiro. Havia um grupo de quatro pessoas organizando documentos. Quando Gonçalves levantou os olhos, os outros três o olhavam com caras absolutamente assustadas: atrás dele, havia uma mulher – que não aparentava ser espírito – usando um vestido branco. Ao ser seguida, ela entrou atrás de uma estante e simplesmente sumiu. Uma menina que presenciou a cena entrou em estado de choque e começou a chorar. No dia seguinte, o lugar foi benzido por um padre, que levou terço, água santa e patuá. Mas, depois da história, ninguém teve vontade de voltar a pisar no local.
Gonçalves acredita que os espíritos da BN são literatos, usuários ou funcionários que ficaram muito apegados à casa. Diz que, depois do primeiro encontro, nunca mais teve medo: “Eu não interfiro na vida deles e eles não interferem na minha. A convivência é pacífica”. E profetiza: “Sou apaixonado por este lugar. Quando morrer, acredito que meu espírito vai continuar por aqui”.
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Roberto Kaz