O Nordeste ainda pegava fogo alguns meses depois da eclosão da Revolução Pernambucana de 1817. Várias províncias do Norte davam sinais de simpatia à rebelião que pretendia a independência de parte do país. Foi nesse momento turbulento que D. João VI decidiu casar seu filho Pedro com uma prendada princesa austríaca, D. Maria Leopoldina, da casa de Habsburgo, em matrimônio firmado por contrato no dia 13 de maio de 1817.
O dote pago pelo imperador Francisco I da Áustria ao rei português foi de 200.000 florins. Em contrapartida, D. João dava como garantia de pagamento todas as rendas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e da Casa Real de Bragança para a proteção financeira de D. Maria Leopoldina. O valor estava à altura da princesa, que, além de exímia pianista, era fluente em alemão, francês, inglês e italiano, tendo aprendido português por causa do matrimônio com D. Pedro.
Em meio a intensas revoltas no Brasil, interessava a um Portugal enfraquecido na Europa estabelecer relações com casas dinásticas poderosas. A casa de Habsburgo acabou sendo lembrada anos depois na bandeira do Império do Brasil: sua cor, o amarelo-ouro, apareceria no losango central da bandeira brasileira.
A revolta dos perdedores
Pouco depois de D. Pedro II subir ao trono, em 1840, os liberais já não estavam nada satisfeitos. Afinal, eles se sentiram excluídos do poder: em pouco tempo viram os conservadores formarem um Gabinete Ministerial, além de reformarem o Código de Processo Criminal e derrubarem a Câmara controlada pelos liberais na chamada “eleições do cacete” – assim batizada pelo povo por causa do excesso de violência.
A tensão política só aumentou, a ponto de, no dia 17 de maio de 1842, os liberais paulistas proclamarem uma revolta na cidade de Sorocaba, em São Paulo. Seu objetivo não era derrubar o jovem imperador D. Pedro II, mas tirar o poder dos conservadores.
Sem muito apoio, os revoltosos ficaram na defensiva por alguns meses, ocupando cidades do interior paulista, mineiro e fluminense, até sofrerem a derrota final na cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais, pelas mãos do futuro duque de Caxias. Após a fracassada rebelião, o trono passaria a fazer um revezamento de poder na Assembleia Geral do Império, obtendo a estabilidade política do Segundo Reinado. Mas, pelo resto do período da monarquia, os conservadores chamariam os azarados liberais de “luzias”, que se tornou uma gíria para perdedores.
Para arrumar a casa
“Atrasado” e “desorganizado” eram os adjetivos usados por alguns intelectuais para qualificar o Brasil em 1930. O diagnóstico deixava evidente a necessidade de a sociedade brasileira se modernizar. Foi nesse momento que Mário Augusto Teixeira de Freitas (1890-1956), futuro dirigente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lançou um projeto para organizar os serviços estatísticos e cartográficos do país. A ideia era clara: colaborar com a administração do Estado, descrevendo em números exatos a realidade do país e identificando suas deficiências, e assim possibilitando medidas mais eficazes para eliminá-las.
A primeira proposta, elaborada em 1934, não foi muito bem-aceita. Os estados não viam com bons olhos o controle absoluto que a União teria sobre o órgão responsável pelas informações. As vozes a favor, no entanto, gritavam mais alto, lamentando que o Brasil fosse o único país a não publicar seu anuário estatístico na América. Com pequenas concessões que permitiam maior participação das regiões, foi criado o Instituto Nacional de Estatística e Cartografia, que começou a funcionar no dia 29 de maio de 1936. Um ano depois, passou a ser chamado de IBGE.