Páginas de esporte

Cristina Romanelli

  • Índios jogando bola no século XVIII. A cena não é muito popular, mas o fato é que eles se divertiam lançando esferas em jogos parecidos com o vôlei e o beisebol. O registro está no livro do missionário jesuíta Joseph François Lafitau (1681-1746), publicado em 1724. A primeira edição da obra pode ser vista na Biblioteca Nacional até outubro na exposição “Corpos moventes: jogos, atividades e esporte em papéis raros”.

    A equipe da Divisão de Obras Raras (Diora) levou dois anos para reunir e organizar todas as imagens e textos da mostra. As curiosidades vão de malabarismos feitos em cima de um cavalo ao “jogo do pao”, uma espécie de arte marcial portuguesa com varas. “O material é muito variado. Não temos ideia da quantidade de acervo sobre esporte. Pode estar até em livros de medicina ou de educação para meninos. Sem contar que algumas modalidades nem sempre foram consideradas esporte, como o arco e flecha”, diz Ana Virgínia Pinheiro, chefe da Diora.

    Um exemplo de livro inusitado é o tratado de campo e exército escrito pelo estudioso francês Guillaume Duchoul em 1555. A versão da BN é uma tradução para o espanhol de 1579 que recebeu o título de Los discursos de la Religión, castramentación, assiento del campo, baños y ejercicios de los antiguos Romanos y Griegos, del Illustre Guillermo de Choul. Nas xilogravuras foram encontrados registros de exercícios realizados por gregos e romanos. É possível ver dois homens praticando o que seria o antecessor do boxe. No lugar de luvas, há tiras enroladas nas mãos.

    Outro precursor de modalidades esportivas atuais aparece no livro Emblemata et aliquot nummi antiqvi operis (Emblemas e moedas antigas), escrito em latim por Johannes Sambucus (1531-1584), historiador da corte dos Habsburgo em Viena. Nele, uma ilustração representa uma partida semelhante ao tênis, em que dois homens estão separados por uma corda e rebatem uma bola pequena. A diferença é que um deles tem duas raquetes na mão. “Na década de 1970, o norte-americano J. T. Houk se dizia o primeiro praticante do tênis com duas raquetes. Faltou estudar os livros antigos”, brinca Ana Virgínia.

    O volume mais antigo da exposição é a versão de 1524 do tratado de xadrez do português Damião de Odemira. Considerado um dos primeiros tratados sobre o esporte, já apresenta as regras que vigoram até hoje e algumas boas jogadas para se vencer a partida. Não é raro encontrar fãs de xadrez em meio aos livros da BN. Mas com tamanha variedade esportiva, Ana Virgínia espera um público diferente: “Vamos atrair atletas e pessoas que se interessam por esportes menos comuns. Com isso, o acervo terá mais visibilidade”.