“Escrito por dois brasileiros, amigos da nação e da pátria”, diz a folha de rosto do Reverbero Constitucional Fluminense, periódico lançado em 15 de setembro de 1821 e que até 8 de outubro de 1822 foi o mais radical e apaixonado dentre os que então circulavam no Brasil, encampando a idéia da Independência. Inicialmente semanal, tornou-se quinzenal a partir de janeiro de 1822. Ao todo, os “dois brasileiros” Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847) e o cônego Januário da Cunha Barbosa (1780-1846) redigiram e publicaram 652 páginas, ao longo de 51 números – 48 ordinários e três extraordinários, recém lançados em edição fac-similar pela Biblioteca Nacional, em três volumes.
A coleção conta com extenso estudo crítico, além de valiosos índices onomástico, toponímico e hemerográfico e analítico, organizados pelos historiadores Cybelle e Marcello de Ipanema, falecido em 1993. “O trabalho foi resultado de aproximadamente dois anos de pesquisa na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional”, conta Cybelle. Dois dos volumes reproduzem todos os números, com exceção do segundo número extraordinário – 18/05/1822, que não consta do acervo da Biblioteca Nacional e não foi encontrado em nenhuma das várias bibliotecas consultadas, tanto no Brasil quanto no exterior. O terceiro volume traz o estudo hemerográfico e os índices.
“Como os jornais ainda não apresentavam expediente, a identidade dos redatores precisava ser confirmada e suas biografias foram determinadas a partir da análise de manuscritos em posse da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, explica a pesquisadora. Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa estavam entre os líderes da maçonaria local de linha francesa e foram mentores da Representação do Rio de Janeiro, documento dirigido ao então príncipe-regente d. Pedro, instando-o a desobedecer seu pai, o rei d. João VI, e as Cortes que exigiam seu retorno a Portugal. O manifesto publicado no número de 1o de janeiro de 1822, por exemplo, intensificou de tal forma essa campanha que, oito dias depois, d. Pedro afirmou sua permanência no Brasil, no episódio que ficaria conhecido como Dia do Fico.
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Os anos que antecederam a Independência do Brasil foram de intensa atividade editorial. O clima de agitação política e uma razoável liberdade de imprensa fizeram explodir o número de periódicos impressos, que só no Rio de Janeiro contabilizavam cerca de vinte. Entre estes, o Reverbero se destacou por criticar abertamente o restabelecimento do controle administrativo direto do território americano pela Metrópole, a extinção dos tribunais superiores no Ultramar e a subordinação das juntas provinciais à assembléia lisboeta.
Para aqueles que procuram entender as idéias e as motivações por trás de nossa Independência, a leitura dos artigos publicados no Reverbero é indispensável por revelar reflexos de sua época, onde o surgimento da imprensa permitiu pensar, debater e sonhar com um país independente.
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