“De onde vinha aquela música?/ E era uma nuvem repleta,/ entre as estrelas e o vento”.Os versos do poema “Noite”, de Cecília Meireles, ainda estão gravados no interior do prédio que recebeu o nome da escritora carioca, ainda na década de 1960. A Sala Cecília Meireles é um dos mais importantes espaços de concerto do Rio de Janeiro e reabre para o público em abril, após permanecer fechada para reformas por três anos. Órgão da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), o espaço contou com R$ 43,5 milhões para a melhoria de sua estrutura e da acústica.
A fachada, em estilo neocolonial, recebeu nova pintura e teve o frontão – arco acima da entrada principal – aberto e envidraçado. “Todo o interior mudou muito com o novo hall vazado e iluminado pelo frontão da fachada e com o foyer mais amplo. O ambiente está mais contemporâneo, e conta com duas bilheterias, café e acesso ao andar superior para o lounge e wine-bar”, conta a arquiteta Tania Chueke, responsável pelo projeto do interior. A sala foi pintada em tom de areia e recebeu revestimento acústico, a fim de melhorar a audição dos tons mais graves dos instrumentos. A arquiteta conta que também foram projetados rampas e elevadores “de modo a ter total acessibilidade aos três andares da sala”.
Construído durante o início da República, em 1896, o prédio era originalmente o Grande Hotel e chegou a abrigar um cinema na primeira metade do século XX. Mas, para desafogar os espetáculos do Theatro Municipal, o então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, decidiu transformá-lo em Sala Cecília Meireles. “O Municipal, que sempre foi o templo da arte musical no Rio de Janeiro, começou a ficar pequeno para o número de atividades. Ele não dá conta de tudo o que uma cidade dinâmica como o Rio precisa”, explica o maestro Henrique Morelenbaum, primeiro a ocupar o cargo de diretor da Sala, em 1965.
Morelenbaum, que voltou a dirigir a sala entre 1987 e 1991, comenta que o espaço realmente precisava de transformações. “Não é só um problema de desgaste físico, é a necessidade de se adaptar aos novos tempos. Um teatro, uma sala de concerto é um ser vivo, que queremos que sobreviva. E a cada sobreviver, precisa de uma nova reforma”, conclui o músico.
Em novembro e dezembro deste ano, será um dos palcos do IV Concurso Internacional BNDES de Piano. "A Sala Cecília Meireles voltará totalmente modernizada ao circuito cultural do Rio de Janeiro, como o melhor espaço da cidade dedicado à música de concerto", aposta o atual diretor da Sala, João Guilherme Ripper.
Palco renovado
Déborah Araujo