Pão nosso de cada dia

Julio Bezerra

  • Ele está entre nós há 12 mil anos. É sinônimo de vida e trabalho, comida para o corpo e para a alma, parte importante da religião de muitos povos. Dizem que é o alimento mais antigo e popular da humanidade. Afinal, quem não gosta de um pãozinho?

    Foram os italianos que expandiram a panificação no Brasil, no início do século XX. No Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, construíram moinhos engenhosos para a produção do trigo, ingrediente básico não só do pão, como da sagrada massa diária.

    “A história dos moinhos no Brasil é longa, doida e plena de mistérios”, avisa Manuel Touguinha. Ele preside a Associação dos Amigos dos Moinhos do Alto do Vale do Taquari, responsável pela valorização desse patrimônio na região. Tudo começou em 1998, quando recebeu a visita de uma amiga, a professora e ambientalista Judite Cortezão. Andando pela pequena Ilópolis, na serra gaúcha, ela se deparou com moinhos abandonados e ficou fascinada. Nascia ali a idéia de criar uma entidade para recuperar aquela história.

    Depois de muito trabalho, a Associação começa a tirar resultados do forno. No ano passado foi inaugurado um conjunto arquitetônico formado pelo antigo Moinho Colonial Colognese, devidamente restaurado, junto ao qual foram construídos um Museu do Pão e uma escola de panificação. Projetado pelos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucchi, o conjunto impressiona por unir preservação histórica e ousadia nos traços e nos materiais utilizados. O Museu abriga exposições sobre o alimento, contando, por meio de painéis, sua história milenar. Tem sala de projeção (a única da cidade) e uma videoteca de 200 títulos do mundo inteiro – todos, de alguma maneira, relacionados com o pão.

    A expectativa agora é que mais moinhos sejam revitalizados, criando um circuito de visitação no vale: o Caminho dos Moinhos. Quatro deles já estão funcionando. Dois ainda precisam de restauro, mas produzem farinha. E a Associação anuncia a finalização de um projeto para o Castaman, moinho onde querem instalar um braço do Museu do Pão, construir uma pousada e uma bodega e restaurar a casa dos proprietários – outra jóia arquitetônica. “Se tudo correr bem, passaremos o ano de 2009 em obras. Com mais esse moinho, o Caminho se estabelece forte e irreversivelmente”, espera Marcelo Ferraz.

    Eles já têm motivos para comemorar. Depois de décadas de abandono, os moinhos voltam a fazer parte do dia-a-dia das comunidades. Conquista que rendeu até reconhecimento nacional: o Conjunto Arquitetônico Museu do Pão levou o Prêmio Rodrigo Mello Franco, do Iphan, em 2008, na categoria “Preservação de Bens Móveis e Imóveis”.