Quando Vargas estava no poder, foram críticos ao governo – e sofreram com isso. Tiveram dificuldades para produzir e circular. Já com JK, foi o oposto: acompanharam minuciosamente a carreira do médico que se tornou político. Nada a espantar: o Pão de Santo Antônio e, depois, o Voz de Diamantina tinham a vantagem da proximidade para observar a trajetória de um dos mais famosos filhos da cidade histórica mineira. Exemplares dos dois jornais estão agora sendo restaurados, em um projeto que vai reabilitar a antiga tipografia e recriar um museu dedicado à memória editorial mineira e brasileira.
“A preservação pode nos ajudar a evidenciar a instabilidade dos sistemas de distribuição dos discursos em diferentes períodos históricos e a identificar as práticas socioculturais vinculadas a uma tecnologia de produção que, apesar de já então ultrapassada, ainda atendia, na sua relativa precariedade, a demanda específica do jornal”, explica a professora Ana Utsch, da UFMG, que coordena o trabalho.
A história dos periódicos começa em 1906, com o Pão de Santo Antônio. Criado pela associação de mesmo nome, o Pão tinha como fim principal angariar recursos para o asilo mantido pelo grupo. Foi impresso até 1920 por terceiros, depois contou com uma oficina própria, que durou até 1933, quando deu uma pausa. Três anos depois, com o nome de Voz de Diamantina, o jornal voltou a circular, sendo impresso na mesma tipografia até o seu fim, em 1990.
Agora, além de restaurar e conservar estes documentos, também será reestruturado o Museu da Memória do Pão de Santo Antônio. Assim, pesquisadores e estudiosos poderão ter acesso ao material por meio de uma biblioteca digital ou de consultas diretas. O projeto deve ser concluído em 2015 com a reinauguração do museu e com a realização de um jornal semestral, dedicado à história da imprensa. Neste mês de fevereiro, começa o trabalho de restauro do acervo em si. São aproximadamente 4 mil exemplares de ambos os jornais, além do mobiliário da antiga tipografia.
“A grande dificuldade no tratamento dos jornais se deve à natureza de seu suporte (o chamado ‘papel-jornal’ ou ‘papel de imprensa’), material em que, além de outras impurezas, estão presentes diversos resíduos, inclusive metálicos, de seu processo de fabricação, fatores intrínsecos de degradação e fragilização impossíveis de serem removidos”, explica Janes Mendes Pinto, restauradora que atua no projeto.
Pesquisador das relações entre a imprensa e o poder e professor da Unisinos-RS, Luiz Antonio Farias Duarte ressalta o caminho único dos jornais ligados à ação beneficente e ao museu da imprensa, argumentando que esta não era a regra das publicações do período. De qualquer forma, ele vê semelhanças entre esses meios: “Publicações como as de Diamantina compõem retratos da vida local e, mesmo que na origem representassem as ideias dos privilegiados que sabiam se manifestar e ler, revelam o passado para além de sua época.” (Ronaldo Pelli)
Papel da imprensa local
Ronaldo Pelli