Patrimônio inédito

Déborah Araujo

  • O Museu da Música de Mariana foi fundado pelo arcebispo Dom Oscar de Oliveira em 1984. O acervo que leva seu nome será disponibilizado on-line até o início de 2015. (Foto: Divulgação)O arcebispo Dom Oscar de Oliveira (1912-1997) realizou grandes projetos na cidade de Mariana (MG) que perduram até hoje. Entre suas heranças culturais, destaca-se o Museu da Música de Mariana, criado há 30 anos para facilitar o acesso público ao patrimônio histórico-musical mineiro, brasileiro e latino-americano. Agora, o objetivo tão almejado pelo arcebispo terá um alcance ainda maior. A coleção que leva seu nome está sendo digitalizada com fundos do Conselho Municipal de Patrimônio de Mariana, e deverá estar disponível on-line até o início de 2015. “Se essa coleção foi constituída com o objetivo de garantir o acesso público, sua digitalização completará esse processo, ampliando de forma ilimitada as possibilidades de consulta às fontes do Museu da Música”, declara o músico Vítor Gomes, curador do museu.

    A coleção Dom Oscar de Oliveira é integrada por 259 caixas com cerca de 5 mil conjuntos de cópias dos séculos XVIII a XX, de aproximadamente 2 mil composições que constituem cerca de 40 mil páginas de música manuscrita. Composta por manuscritos feitos no Brasil do final do século XVIII a meados do XX, o acervo é composto majoritariamente por música sacra. “A grande maioria delas é inédita em gravações ou em partituras impressas, sendo um dos acervos que preservam as cópias mais antigas de música composta em Minas Gerais”, ressalta Paulo Castagna, coordenador técnico do projeto de digitalização. A coleção também inclui composições sinfônicas, música para piano, canções e danças populares, entre outras.

    (Foto: Divulgação)A digitalização é realizada por meio de scanners e de câmaras fotográficas. Para isso, foi construída nas dependências do Museu da Música uma câmara de digitalização, isolada da luminosidade do meio exterior, o que permite controlar a luz artificial empregada nesse procedimento. “Além de todas as folhas dos documentos, serão digitalizadas as marcas d’água dos papéis empregados nas cópias, por meio de uma caixa de luz e de uma câmara fotográfica digital”. A partir desse processo, cada conjunto manuscrito irá gerar um pacote de imagens, que será convertido em arquivo a ser disponibilizado on-line em uma base de dados em fase de construção.

    Das 10 coleções que há no museu, os catálogos da Coleção Dom Oscar de Oliveira e de outras duas – o Arquivo do Seminário Maior de São José de Mariana e o Acervo Lavínia Cerqueira de Albuquerque – já está disponíveis no site da instituição. O objetivo da instituição é, a médio prazo, catalogar e disponibilizar digitalmente as demais coleções.

    Segundo Paulo Castagna, se Dom Oscar não tivesse fundado o Museu da Música, a maioria das fontes musicais recolhidas na instituição provavelmente teria desaparecido. “Era e continua sendo uma prática comum, em todo Brasil, a destruição intencional de acervos musicais privados que não encontrem função na atualidade”, lamenta o pesquisador. Para ele, a música sacra, tanto a católica quanto a de muitas outras religiões, “sempre foi importante para a cidade de Mariana, para o Brasil e o mundo, e continua sendo até hoje. Mas a noção de música como patrimônio histórico e artístico é muito recente e, no Brasil, vem sendo construída lentamente”, conclui.