Paciência e dedicação. Duas palavras que resumem bem o trabalho do arquiteto e urbanista piauiense Olavo Pereira da Silva Filho. Durante 40 anos, ele percorreu todos os cantos da terra natal garimpando informações e imagens do desconhecido acervo arquitetônico e paisagístico do estado nordestino. Agora, essas pesquisas podem finalmente ser conferidas nos três volumes de Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy, publicados graças ao Prêmio Rodrigo Melo Franco, concedido pelo Iphan em 2008.
Mesmo vivendo em Minas Gerais, Olavo se incomodava com a falta de referências e a ameaça constante que pairava sobre o patrimônio piauiense. “Como conhecia os costumes e modos de vida da região, me senti motivado a fazer o registro, a difusão e a preservação de seus artefatos rurais e paisagens urbanas”, lembra o arquiteto. A tarefa não foi nada fácil. Dispondo de poucas informações, decidiu conhecer de perto cerca de 50 municípios, conversar com seus moradores e documentar desde enormes sedes de fazendas até rústicos casebres feitos de barro, pedra e carnaúba (árvore típica do sertão) – daí o nome do trabalho. “Arquitetura é fato histórico, que se evidencia na ocupação do sítio, no uso ou abandono. Muitas vezes isso passa despercebido no cotidiano. Noutras, pode despertar emoção”, assinala.
Combinando análise arquitetônica e investigação histórica, também compilou relatos orais, fotografias e documentos manuscritos sobre a origem e a evolução das cidades piauienses pelo menos desde o século XVIII. “Esses registros informam o que a matéria não diz. Encontrá-los por meio de um projeto de pesquisa independente é um exercício de paciência, sem tempo, sem dimensão”, diz Olavo. O resultado de todo esse esforço está nos três volumes – Estabelecimentos Rurais, Arquitetura Urbana e Urbanismo –, que abordam temas como o surgimento de fazendas e povoados no desabitado sertão, a participação da Igreja na formação das vilas coloniais e o modo de vida de senhores, vaqueiros e escravos.
Mas a publicação das pesquisas não significa o fim do trabalho de uma vida. Pelo contrário. Além de prosseguir com o projeto – que agora conta com patrocínio da Petrobras –, Olavo Pereira da Silva espera atrair novos pesquisadores e garantir a preservação de todo esse patrimônio.
Pedra, barro e carnaúba
Juliana Barreto Farias