Benoît Evellin é um rapaz de sorte. Foi contratado em fevereiro para passar seis meses percorrendo cada canto do Palácio de Versalhes, na França. O trabalho dele é incentivar os funcionários a escreverem artigos sobre a antiga moradia real e publicá-los na enciclopédia virtual Wikipédia, que completou dez anos em janeiro. Desde 2010, a enciclopédia fechou parcerias com instituições importantes, como a Biblioteca Nacional da França, o Museu Britânico e até os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
Apesar das novidades, ela ainda é alvo de críticas. Como qualquer pessoa pode editar as informações publicadas ali, a maioria dos pesquisadores mantém um pé atrás. “Há avaliações muito negativas porque não especialistas também redigem os verbetes. Fora isso, várias universidades nos Estados Unidos não aceitam trabalhos que utilizam a Wikipédia como fonte. Ela não pode substituir a leitura de livros e artigos científicos”, diz Renato Pinto Venancio, professor de Arquivologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O diretor de novas mídias do Palácio de Versalhes, Laurent Gaveau, acredita que as novas parcerias ajudarão a criar artigos mais precisos e aproximar os especialistas dos internautas em geral. “A comunidade escolhe quais artigos quer aprofundar e a nossa equipe pode ajudar e oferecer informações”, diz ele. Já Benoît Evellin garante que os novos verbetes publicados desde sua chegada a Versalhes, em fevereiro, são fontes seguras. “Aqui no palácio, eu explico que cada informação deve ter uma referência que a confirme, como livro, cartografia ou imagem”, explica.
Apesar de desconfiar da ferramenta, a maioria dos pesquisadores acaba se rendendo a ela. Hoje a Wikipédia é consultada por mais de 400 milhões de pessoas por mês. “Geralmente uso para assuntos que sei por outras fontes. Nunca vi erros grosseiros, acho bem razoável. Se ela começar a se apoiar em pesquisa séria, pode ser excelente tanto para alunos como para pesquisadores. Nem que seja para discordar e corrigir”, diz a historiadora Tania Machado Morin, autora da dissertação “Práticas e Representações das Mulheres na Revolução Francesa”.
Tania já foi muitas vezes ao palácio construído por Luís XIV. Segundo ela, um dos episódios que merecem um bom artigo na Internet é a invasão de outubro de 1789 [Ver RHBN nº. 63]. “No auge da Revolução Francesa, as mulheres de Paris se uniram aos soldados da guarda nacional e invadiram o palácio, mas a rainha Maria Antonieta conseguiu fugir”, conta. Aliás, Maria Antonieta é alvo de curiosidade constante em Versalhes. “Seus aposentos são os mais visitados. Ela marcou a história do palácio, que foi o maior e mais luxuoso da Europa por muitos anos. Até hoje ele ainda é muito pesquisado”, diz a historiadora. Talvez agora, alguns estudiosos resolvam divulgar parte dessas pesquisas na enciclopédia virtual.
Peixes grandes na rede
Cristina Romanelli