Pelô expressionista

Adriano Belisário

  • O artista plástico alemão Karl Meinz Hansen, nascido em 1915, não podia imaginar que levaria quatro décadas para descobrir sua verdadeira pátria. Ao encontrá-la, não fez por menos e decidiu homenageá-la nas suas obras e em seu próprio nome: tornou-se Hansen Bahia. No seu 95º aniversário, em 19 de abril, São Félix e Cachoeira (BA) irão homenagear o antigo e ilustre morador com a abertura ao público da casa onde morou e a inauguração da sede da Fundação Hansen Bahia.

    Ao todo, os dois ambientes guardarão cerca de treze mil itens do acervo de Hansen, que inclui xilogravuras, ilustrações, textos e documentos. “Ele tinha uma carga do expressionismo alemão quando chegou, depois teve uma fase meio cubista. Hansen dizia: ‘Tudo que fiz e o que sou devo à Bahia’. Seu trabalho retrata principalmente as pessoas que moravam no centro histórico de Salvador, mostrando o contraste entre a opulência do barroco e a pobreza financeira das pessoas”, explica Leda Deborah, curadora da exposição da Fundação Hansen Bahia.

    Prevista inicialmente para o mês passado, a abertura da Fundação atrasou por conta das águas de março que inundaram a sede, prejudicando alguns móveis. Por meio de parcerias com o governo alemão, com o programa Monumenta do Iphan e com a Caixa Econômica, a memória de Hansen conseguiu ganhar um espaço próprio e resistir ao tempo, pois boa parte de suas obras é bastante frágil, feita de madeira e papel. “Tudo de que cupim gosta. E esta região é superúmida”, diz Leda.

    No entanto, mesmo com os apoios, o desejo maior de Hansen Bahia ainda não pôde ser totalmente realizado pela instituição. “Ele não pensava na Fundação como um museu, mas como um centro de referência em xilogravura na América Latina. Algo voltado também para a parte prática, com oficinas e cursos. Não temos muitos recursos para esse tipo de coisa, só fazemos isso timidamente”, lamenta a curadora.