Ponto esquecido no mapa do Rio de Janeiro durante décadas, a Lapa assiste à sua revitalização com um pé no passado e outro no futuro. Principal marca do bairro, os Arcos entram em obras este mês para uma restauração que, entre outras coisas, promete recuperar traços dos tempos coloniais, como a iluminação feita por lampiões. Porém, logo ao lado, a Eletrobrás planeja a construção de um megaedifício de até 44 andares que projeta a Lapa no futuro, mas causa polêmicas desde já.
O Ministério Público do Estado abriu investigação para averiguar se o prédio na Rua dos Arcos não causaria danos ao conjunto arquitetônico da região, que teve sua área, tombada pelo Corredor Cultural, diminuída sob encomenda para este projeto. Encaminhado pela Prefeitura, o projeto de lei com as alterações foi aprovado pela Câmara dos Vereadores ao apagar das luzes do ano passado e sem consulta pública. “É um prédio que não tem nada a ver com o local e pode servir como um perigoso precedente para outros empreendimentos do tipo”, critica Agostinho Guerreiro, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ).
Convidado pela Eletrobrás a dar uma parecer informal sobre o assunto, o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Carlos Fernando Andrade, não vê problemas com a construção. Para ele, basta que o edifício seja construído o mais longe possível dos Arcos da Lapa, para que não altere significativamente a visão de um dos maiores cartões-postais da cidade. “O melhor é recuar ao máximo e usar o mínimo de terreno. Se ele tiver que crescer em altura, ótimo. Ele vai ficar do mesmo jeito de outros prédios das proximidades”, observa.
Atualmente, o terreno desejado pela companhia é ocupado apenas por estacionamentos. Como contrapartida, a Eletrobrás teria oferecido a abertura de um centro cultural e melhorias na rede de água e esgoto da região. Assim, a Lapa oscila entre a antiga boêmia popular e a modernização pela iniciativa privada, tentando colocar os prós e os contras na balança. “A entrada do poder público na Lapa quase sempre foi prejudicial. Espero que esta seja diferente”, comenta Carlos Fernando. Procurados pela reportagem, órgãos da Prefeitura e a Eletrobrás não se pronunciaram sobre o assunto.
Polêmica entre arranha-céus e lampiões
Adriano Belisário