Primeiros passos

Cristina Romanelli

  • É difícil explicar em palavras a sensação de presenciar um espetáculo de dança verdadeiramente bem montado. Impossível compreender sem ouvir a música tocada no exato momento em que a bailarina saltou, sem ver as roupas ornamentadas, os pés que mal tocam o chão. O livro jamais deixará de ser bom material de consulta, mas a série Figuras da Dança se tornou aliada valiosa para conhecer a trajetória da dança no Brasil. Imagens de apresentações, fotos antigas e depoimentos complementam os 17 documentários sobre importantes personagens dessa história. Organizado pela São Paulo Companhia de Dança, o material é distribuído em instituições educativas e culturais, universidades e ongs, além de ser transmitido na TV Cultura. Este ano, serão lançados outros dois curtas, sobre a coreógrafa Lia Robatto, e Ismael Ivo, hoje diretor do Festival Internacional de Dança Contemporânea da Bienal de Veneza.

    “Quando parei de dançar, comecei a dar aulas e percebi que quase não há material de consulta, nem imagens. Fiz documentários por conta própria e depois ajudei a criar essa série. Existem outros trabalhos, mas são esforços esparsos”, explica Inês Bogéa, diretora da companhia.

    A série, que começou em 2008, já dedicou episódios a figuras como as bailarinas Márcia Haydée e Ana Botafogo, e o argentino Ismael Guiser (1927-2008), que chegou ao país em 1953 para ser solista do Ballet do Quarto Centenário. Cada documentário mostra pontos importantes da carreira de um desses personagens. “Quando D. João VI veio para o Brasil, em 1808, trouxe a dança da corte, uma espécie de balé clássico. Levou tempo para desenvolver a dança aqui... Só em 1936 foi fundado o balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e, em 1968, o de São Paulo. Muitas pessoas que participaram dessa história estão vivas e podem nos contar pessoalmente”, diz Inês.

    Um bom exemplo é a francesa Tatiana Leskova. A bailarina de família russa estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1942, como dançarina principal do Original Ballet Russe, mas só resolveu ficar de vez quando voltou em 1944. “Dirigi o corpo de baile do Municipal de 1950 a 1964, retornando várias vezes depois. Ele não tinha repertório. Montei Lago dos Cisnes, Coppélia, convidei coreógrafos... Algumas coisas melhoraram, mas ainda falta evoluir. Nos últimos anos o número de apresentações diminuiu, por exemplo”, afirma Dona Tânia, como ficou conhecida pelos alunos.

    Para ela, outro problema que o Brasil enfrenta é a falta de livros sobre o tema. “Acho que existem menos de dez livros sobre a história da dança aqui. As pessoas conhecem mais a Ana Botafogo, porque ela viaja por todo o Brasil, tem essa versatilidade. O Figuras da Dança vai ajudar o pessoal das universidades. Mas ainda acho que a exibição na televisão é pouca. Eles tinham que conseguir mais espaço”, lamenta a bailarina.

    Enquanto o descaso com a história da dança continua, os interessados podem procurar as instituições que receberam o material ou ver na Internet parte dos documentários e textos sobre os artistas, com fotos e cronologia.

    São Paulo Companhia de Dança: www.saopaulocompanhiadedanca.art.br