“Somos apenas um punhado de homens. Somos dez? Vinte? Que importa? Seremos uma legião amanhã, quando todos os que sabem quanto o clericalismo é prejudicial, quanto o jesuitismo é nefasto, quanto o beatismo embrutece os povos decidirem vir engrossar as nossas fileiras”. As palavras, impressas no jornal A Lanterna, fundado em 1909, foram escritas por Edgard Frederico Leuenroth (1881-1968), um dos principais militantes anarquistas do Brasil. Relembrar suas ações possibilita um retorno às práticas e à memória da classe operária brasileira nesse período, principalmente a paulistana.
Descrito pelo jornal O Estado de S. Paulo, em 1918, como “um sonhador, um utopista, desses que põem toda a sua alma na propaganda das ideias que um dia irão dominar o mundo inteiro”, Leuenroth ficou conhecido pela defesa do anticlericalismo – bandeira cuja trajetória se confunde com a história do anarquismo no Brasil. Para ele, esta era uma ferramenta de “libertação das consciências humanas”.
Tipógrafo desde os 12 anos de idade, Leuenroth atuou como jornalistae arquivista. A imersão no movimento anarquista foi influenciada pelo poeta libertário Ricardo Gonçalves, um dos principais colaboradores do periódico anarquista Amigo do povo.
Reconhecido por ter fundado, dirigido e colaborado com a imprensa operária e libertária brasileira – algumas vezes sob os pseudônimos de Palmyro Leal, Frederico Brito, Siffleur, Len e Routh – o militante anarquista publicou, em 1897, seu primeiro jornal “crítico e literário”, O Boi. Na condição de operário e tipógrafo, ajudou a inaugurar, em 1904, a União dos Trabalhadores Gráficos, posteriormente conhecido como Sindicato dos Gráficos, de inspiração bolchevique.
A luta dos trabalhadores na primeira metade do século XX teve no jornalismo um instrumento de militância e em Edgard Leuenroth um expoente para a construção do projeto de uma “revolução anárquica”. Como integrante do movimento, o tipógrafo lutou contra o poder instituído e contra todas as formas de exploração e dominação impostas pela sociedade da época.
Um dos líderes da Greve Geral de São Paulo, em 1917, pela qual foi preso, Leuenroth tornou-se símbolo de um movimento que denunciou a expansão capitalista, a exploração do trabalho, o poder da Igreja Católica e suas articulações com a burguesia nacional e as obscenas alianças formadas entre empresários e Estado.
Saiba mais - Bibliografia
FERREIRA, Jorge & REIS, Daniel. A formação das tradições 1889-1945. Coleção As Esquerdas no Brasil. Vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
TOLEDO, Edilene. “Atrajetória anarquista no Brasil na Primeira República”. In: FERREIRA, Jorge & REIS, D. Aarão. As esquerdas no Brasil. A formação das tradições (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Internet
Arquivo Edgard Leuenroth
http://www.ael.ifch.unicamp.br
Profissão: anarquista
Gabriela Nogueira Cunha e Janine Justen