Há 220 milhões de anos, o único continente da Terra estava prestes a se dividir. O clima se tornava mais quente e seco, e dinossauros e mamíferos davam seus primeiros passos. Foi nessa época também que apareceu um réptil voador chamado pterossauro. Até hoje especialistas dizem que o animal surgiu no Hemisfério Norte, porque lá foram encontrados os fósseis mais antigos. Mas pode ser que ele tenha se escondido bem mais ao sul. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é possível que um pequeno fóssil encontrado na cidade de Faxinal do Soturno, a quase 300 quilômetros de Porto Alegre, seja um exemplar do réptil voador mais antigo do mundo.
“Encontramos o material há uns cinco anos, mas só depois percebemos o que tínhamos em mãos. São pedaços de ossos da perna, do ombro e do maxilar. O formato deles indica que pode ser um pterossauro. Além disso, são ocos, o que tornaria o animal mais leve para voar”, conta Cesar Schultz, paleontólogo da UFRGS. De acordo com os pesquisadores, o animal era pequeno, do tamanho de um pardal ou um rato. Como não há um segundo exemplar, eles não sabem se seria adulto ou filhote.
Na mesma região, foram encontrados muitos outros animais já estudados pela equipe da universidade. Segundo Schultz, o local devia ser uma zona de alimentação de uma espécie maior. “Achamos que o predador era um dos primeiros dinossauros, chamado guaibassauro. Ele fazia como as corujas, que caçam camundongos e lagartixas e depois vomitam os restos”, explica.
Entre todos os achados, nenhum se parece com o possível pterossauro. Por ser um caso mais raro, os restos foram enviados para o Museu Nacional da UFRJ, no Rio de Janeiro. Lá, o especialista Alexander Kellner iniciará uma nova análise em 2011, para dar uma segunda opinião. “À primeira vista, não há nem um osso típico de um pterossauro, mas preciso namorar o material, estou muito no início do estudo. Primeiro tenho que descobrir se todos os ossos são do mesmo animal e que ossos exatamente são esses”, diz ele. Só depois disso o pesquisador vai poder chegar a uma conclusão.
Segundo Kellner, caso não se trate de um pterossauro, há chance de ser um animal na linha evolutiva ou um ancestral da espécie. “Conhecemos muito pouco os achados daquela região. Pode ser até uma espécie nova. Por enquanto, só sei que é um réptil”, conta. Mas, ainda que o resultado seja outro, a equipe gaúcha não desanima. “Mesmo se para Kellner não for um pterossauro, essa descoberta é muito valiosa. É algo diferente, que nunca vimos por aqui”, diz Schultz.
Pterossauro gaúcho
Cristina Romanelli