Quadrinhos - Ditadura em cena

Heitor Pitombo

  • A produção artística e literária que aborda a ditadura que nosso país viveu entre 1964 e 1985 é bastante farta. Na música, Geraldo Vandré falou de “soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão” e levou ao delírio a plateia do III Festival Internacional da Canção, em 1968. Doze anos depois, Alfredo Sirkis lançou Os Carbonários, livro em que fala da ditadura com a autoridade de quem participou da guerrilha urbana. O cinema também trouxe à tona essa fase de nossa história com filmes como “O que é isso, companheiro?”, de 1997, baseado no best-seller homônimo de Fernando Gabeira.

    Mas foi só mais recentemente que os quadrinhos começaram a tratar desse período com alguma desenvoltura, muito por conta do trabalho do roteirista André Diniz, que criou, no final dos anos 1990, a série Subversivos, contando histórias protagonizadas por desaparecidos políticos. Seu trabalho mais recente no gênero é a revista Ato 5, desenhada por José Aguiar, que se inspira no período em que foi decretado o quinto Ato Institucional, em 13 de dezembro de 1968. O decreto fechou o Congresso Nacional, proibiu quaisquer manifestações políticas e recrudesceu a censura. O argumento, contudo, não gira em torno de personagens reais. O máximo que o ilustrador pôde se inspirar em uma pessoa conhecida está na protagonista Lorena, que na idade mais madura seria uma espécie de Fernanda Montenegro.

    A trama de Diniz, embora de ficção, conta a história da Companhia Teatro de Vanguarda e faz referência a diversos fatos conhecidos que marcaram essa fase da nossa história. Os atores em questão, além de sofrerem com a perseguição da censura, têm o teatro onde apresentam suas peças incendiado e depredado pelo Comando de Caça aos Comunistas. Em outra cena da HQ, o diretor da companhia precisa se esconder num sítio quase abandonado em Minas Gerais, pois seu nome faz parte de uma lista de personalidades que o regime queria ver encarceradas. Mais adiante, o roteiro nos leva a 1970, quando a Companhia viaja para a Itália a fim de mostrar uma peça censurada no Brasil em um grande festival de artes cênicas local. Com direito a uma cena em que os protagonistas assistem à final da Copa do Mundo daquele ano – Brasil 4 x 1 Itália – e se dividem entre o júbilo e a constatação de que a ditadura se apropriaria do fato para vender a imagem de uma nação vitoriosa. (...)

    Leia a matéria completa na edição de Setembro, nas bancas.