Histórias de beira do cais, de velhos marinheiros, jagunços, meninos de rua, prostitutas. A realidade de violência e contrastes da Bahia aparece em quase todas as obras de Jorge Amado (1912-2001), publicadas em mais de 50 países. Em agosto de 2012, o escritor faria 100 anos, mas as comemorações começam este mês, com os 25 anos da Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador. Ainda estão previstos lançamentos de publicações, uma exposição e o filme “Capitães da Areia”, dirigido pela neta Cecília Amado.
A Fundação Casa de Jorge Amado foi criada em 1986 para guardar todo o acervo do autor, além de incentivar estudos e pesquisas sobre a obra dele e de outros escritores e artistas baianos. A casa no Pelourinho expõe documentos, livros, fotos e objetos de Amado. “Ele dizia que não queria se meter na criação da fundação, mas sempre deu apoio. Prestigiou os eventos e sempre aparecia para nos visitar. Foi um grande privilégio ter convivido com Jorge. Ele me incentivou desde o início da minha carreira”, conta a escritora Myriam Fraga, diretora da Fundação desde a inauguração.
O aquecimento para a comemoração dos 25 anos começou em janeiro, quando foi inaugurada na casa uma exposição mais interativa e com conteúdo renovado. Também estão sendo digitalizados e divulgados no site da instituição os mais de 200 mil documentos do acervo, entre originais de Jorge Amado e fotografias tiradas por Zélia Gattai (1916-2008), sua segunda esposa. O próximo passo é digitalizar a hemeroteca e publicar até agosto o primeiro volume do catálogo de fotos de Zélia.
Ainda há mais novidades planejadas, como o Curso Jorge Amado, que reunirá mesas de debate na Academia de Letras da Bahia de 22 a 26 de agosto. No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, haverá uma exposição sobre o escritor que depois seguirá para outras cidades. Já o filme “Capitães da Areia”, com estreia prevista para dezembro, é quase a quitação de uma dívida de Cecília Amado com o avô. “Quando decidi fazer cinema, ele disse que eu iria realizar o sonho dele de ser cineasta. Ele foi uma das pessoas que mais me apoiaram”, diz Cecília.
“Capitães da Areia” conta a história de um grupo de meninos abandonados que planejam furtos, trapaças, e vivem muitas aventuras enquanto aproveitam a liberdade das ruas de Salvador. Publicada pela primeira vez em 1937, em pleno Estado Novo, a obra teve vários exemplares apreendidos, já que Pedro Bala, personagem principal, vira um militante comunista. A repressão talvez só tenha ajudado, pois esta obra se tornou a mais publicada de Amado. “É um drama social que continua. Por baixo das drogas, os meninos de hoje são iguais aos do livro. Seja na fascinação pela liberdade ou na relação com a sociedade”, afirma Cecília. Uma das principais atrações do filme são os atores mirins, todos de ONGs de Salvador. Verdadeiros “capitães da areia” estarão em cena.
Saiba Mais - Internet
Fundação Casa de Jorge Amado: www.jorgeamado.dreamhosters.com
Filme “Capitães da Areia”: www.capitaesdaareia.com.br
Quase um festival
Cristina Romanelli