Respeito às diferenças

Cristina Romanelli

  • “Intransigência com relação a opiniões, atitudes, crenças, modo de ser que reprovamos ou julgamos falsos”. Assim é definida a palavra “intolerância” no Dicionário Houaiss. Ao longo da História, não faltam exemplos em que ela possa ser aplicada. É por isso que até 2015 será inaugurado no campus da Universidade de São Paulo (USP) o Museu da Tolerância, criado nos moldes do Museum of Tolerance, em Los Angeles, Estados Unidos. O espaço dará destaque especial à realidade brasileira, incluindo um setor dedicado à Inquisição com todo o acervo de documentos reunido pela historiadora Anita Novinsky, pioneira na pesquisa sobre a perseguição aos cristãos-novos no Brasil e idealizadora do museu.

    “Este espaço será o único do gênero  na América Latina e talvez no mundo, pois será voltado para todas as raças, todos os povos e todas as crenças. Não há nenhum museu sobre o Tribunal da Inquisição, por exemplo. Só existem algumas exposições na Colômbia e no Peru sobre os instrumentos de tortura. Aqui no Brasil, a Inquisição atuou durante três séculos e influiu na vida colonial em todos os níveis – econômico, político, social, religiosoe cultural. E os descendentes dos judeus convertidos à força em 1497 continuaram a ser perseguidos séculos depois”, conta Anita.

    O museu será vinculado ao Laboratório de Estudos sobre a Intolerância da USP e pretende abordar temas diversos, como a escravidão, o extermínio dos povos indígenas da América, o Holocausto, a Guerra do Vietnã e o ataque às Torres Gêmeas em Nova York. O atentado terrorista nos Estados Unidos em 2001, aliás, foi uma das inspirações de Anita, assim como as três visitas que ela fez ao Museum of Tolerance. “O museu de Los Angeles era o único na época. Foi criado por Simon Wiesenthal, o caçador de nazistas, para que o mundo se lembrasse sempre do extermínio de milhares de inocentes. Lá os visitantes são encaminhados a uma intervenção que os obriga a pensar e a responder a algumas perguntas. Aqui no Brasil, onde menos da metade da população tem o hábito da leitura, também precisamos de um espaço interativo, que transmita conhecimentos e onde cada visitante tenha participação”, afirma a historiadora.

    Como forma de educação, esse tipo de museu tem papel importante. No entanto, não significa que ajude a criar novas gerações imunes à discriminação. Esta é a opinião de José Pedro Zúquete, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e autor de The Struggle for the World: Liberation Movements for the 21st Century (2010), com Charles Lindholm. “Meu ceticismo diz que a intolerância sempre existirá. O que tem mudado é o combate cultural e legal. Hoje em dia, qualquer país que se preze tem um verdadeiro arsenal de leis contra a discriminação”, avalia.

    Ainda que não eliminem a intolerância, os museus dedicados ao tema podem relembrar alguns episódios da História e contribuir para evitar futuros holocaustos e inquisições. Segundo Anita, este é um dos principais objetivos do espaço em São Paulo.