Retratos dos continentes

Janine Justen

  • Há tempos os viajantes e suas histórias estão na imaginação das pessoas, entre piratas, aventureiros e expedicionários. Com a expansão marítima europeia, que ganhou fôlego no século XV, algumas dessas fantasias tomaram forma, nome e paradeiro, sendo por vezes documentadas em diários de bordo, cartas da tripulação e pinturas de paisagem – como são as célebres palavras de Pero Vaz de Caminha e as pinturas de Frans Post. Foi com a intenção de reunir registros dessa natureza que o holandês Pieter van der Aa (1659-1733) organizou a Galeria do mundo, publicada em 1729, que hoje tem um de seus escassos cem exemplares em fases de restauração e digitalização nos corredores da Biblioteca Nacional.

    Composta por 66 volumes, a coleção está dividida em três partes que somam quase 3 mil pranchas de mapas e gravuras do século XVII, sobre cidades, costumes e a natureza dos quatro cantos do mundo. De acordo com Adriana Amaro, membro da equipe de restauro e coordenadora do caderno que tem o Brasil como tema principal, um álbum inteiro já foi encadernado e se encontra em fase de digitalização, e outros dois estão sendo reparados. “A parte pela qual fiquei responsável, que retrata o nosso país e seus estados, estava bastante fragilizada, em um estado realmente precário de conservação. Mas fico feliz em dizer que tudo fluiu bem”, comenta Adriana, animada, já pensando em possíveis manobras futuras para disponibilizar o conteúdo online.

    Segundo a historiadora Heloisa Gesteira, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), van der Aa abriu seu próprio negócio aos 19 anos, transformando-se num editor e vendedor de livros na cidade de Leiden, na Holanda. “Durante toda a sua vida, ele colecionou e editou uma grande quantidade de mapas e gravuras feitos por outros impressores neerlandeses do século XVII, como os Blaeu, Visscher, Meurs e de Wit”, explica a professora. Na obra, os continentes aparecem segundo a organização dos principais atlas do século XVII: Europa, Ásia, África e o Novo Mundo.

    Para Adriana Amaro, a importância deste trabalho é facilitar a consulta dos pesquisadores a essa relíquia que, por apresentar apenas cem cópias em todo o globo, é classificada como obra rara. “Prestar esse serviço é, para nós da Biblioteca Nacional, um prazer imenso. É um esforço fundamental”, afirma a funcionária. E reforça: “À medida que finalizamos a restauração dos volumes da Galeria, encaminhamos o material para a digitalização, já que a ideia é primar pela qualidade do acesso ao material”.