Os cartões-postais confirmam: o Rio de Janeiro é muito conhecido por suas belezas naturais, que saltam aos olhos nos dias de sol. O Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) quer revelar outro lado da cidade. Roteiros pelo Centro dispensam as belas praias e montanhas cariocas para contar a história da metrópole por meio de suas antigas construções. Esses passeios feitos a pé ainda contradizem a fama de cidade violenta.
“As pessoas falam muito mal do Rio; queremos mostrar que não há perigo. Nesses oito anos em que fazemos o roteiro noturno, nunca houve problema”, conta o geógrafo e idealizador do projeto, João Baptista Ferreira de Mello. É ele quem vai desvendando a paisagem construída pelo homem para o grupo que o acompanha. Fala sobre o desenvolvimento urbano do Rio, sobre a arquitetura dos prédios de diferentes épocas e conta fatos que aconteceram naquele cenário.
A iluminação da metrópole durante a noite é o elemento de charme do passeio: “Sou um flâneur, gosto de andar pela cidade e percebi como os monumentos históricos ficavam muito bonitos banhados de luz”, observa João Baptista. Além disso, conta o geógrafo, o público entra em contato com o “pulsar noturno da cidade” ao passar por lugares que fervem até mesmo durante a semana, como a Lapa, bairro da boemia carioca.
Os visitantes recebem explicações sobre cada lugar por onde passam. A Avenida Passos, por exemplo, ganhou este nome em homenagem ao prefeito Francisco Pereira Passos (1902-1906), idealizador da reforma urbana conhecida como o Bota-Abaixo. A Igreja da Lampadosa foi onde Tiradentes, do lado de fora, assistiu à última missa de sua vida. A Casa França-Brasil – hoje um centro cultural – abrigava a alfândega na época de D. João VI. Já a Rua do Ouvidor, a mais importante do século XIX, acompanhou as mudanças da cidade: teve iluminação de azeite, a gás e elétrica.
A beleza dos sobrados, com suas cantarias e gradis de ferro, espalhados pelo Centro sempre chamam a atenção: “As pessoas dizem: ‘Eu sempre passei aqui e nunca reparei’. É a redescoberta da cidade em meio à sua arquitetura”, observa João Baptista. “O Rio permite assistir a uma comunhão entre o passado e o presente. Você pode ver uma torre de trinta andares ao lado de sobrados do século XIX. Há um diálogo entre diferentes tempos”, acrescenta o geógrafo.
A aposentada Adilene da Costa aprovou o passeio: “São poucas as possibilidades que temos de conhecer o Rio pela ótica da geografia e da história, e os roteiros são bem planejados e organizados”. A socióloga Marina Teixeira comenta como aprendeu e ao mesmo tempo se divertiu: “Pude ver muitas coisas de que não tinha conhecimento e nem senti o tempo passar. Já fiz outros roteiros durante o dia, mas preferi esse à noite”.
O Instituto de Geografia oferece seis roteiros diferentes feitos à noite, todos gratuitos. Os dois realizados com mais frequência – em média, uma vez por mês – são “Caminhando por entre luzes no Centro do Rio à noite”, que começa no Centro Cultural Banco do Brasil e acaba na Cinelândia, e “Roteiro noturno do Centro do Rio a pé”, que parte da Catedral Evangélica e termina na Lapa. Um passeio que começa com História, mas pode terminar com samba.
Inscrições:
roteirosgeorio@uol.com.br
(21)8871-7238
Próximas datas: 7 e 13 de maio
www.roteirosdorio.com
Rio, cidade-luz
Claudia Bojunga