Ritmo arretado

Cristina Romanelli

  • Futuras instalações do espaço cultural do frevo, em Recife. Foto: Divulgação“Eita frevo bom danado, eita povo animado/ Quando o frevo começa parece que o mundo já vai se acabar/ Quem cai no passo não quer mais parar!”. Os versos de “Bom Danado” (1954), frevo-canção de Luiz Bandeira e Ernani Seve, estavam mais do que certos. Desde que foi criado, o frevo não para. Tornou-se extremamente popular e ganha cada vez mais adeptos. Em 2007, ao completar 100 anos, foi declarado patrimônio cultural e imaterial pelo Iphan. E em abril deste ano vai ganhar, pela primeira vez, um espaço cultural inteiramente dedicado a ele, bem no coração da capital pernambucana.  

    O chamado Paço do Frevo será inaugurado em um prédio tombado de quatro andares, no bairro do Recife, considerado o marco zero da cidade. Segundo Leonardo Dantas, jornalista e autor de Antologia do carnaval do Recife (1991), com Mário Souto Maior, o bairro, junto com São José, Santo Antônio e Boa Vista, forma a área central onde o frevo nasceu. “O ritmo nasceu aqui. E a palavra frevo foi usada pela primeira vez na imprensa pelo Jornal Pequeno, em fevereiro de 1907. Ela significava agitação, movimentação, confusão. Hoje ainda dizemos aqui coisas como ‘vamos deixar de frevo’”, explica o jornalista.

    Toda essa história está sendo reunida pelo centro de documentação do Paço, com material de diversos acervos, incluindo o do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural – Casa do Carnaval. São depoimentos, partituras, livros, folhetos, teses, material audiovisual e periódicos. Haverá também uma exposição permanente com linha do tempo, história, música, coreografias e vertentes do frevo. “O único espaço dedicado ao frevo estava na Casa do Carnaval, mas não era grande. Agora será um prédio inteiro sobre o tema, que terá estúdio de gravação, cursos de música e dança, rádio on-line e exposições temporárias. Não queremos só preservar a história, mas também abrir espaço para novos músicos”, diz o secretário municipal de Cultura, Renato Lins.

    Até onde se sabe, o frevo vem de uma evolução dos desfiles de bandas de música, ainda no século XIX. “É uma fusão da polca-marcha com o dobrado militar. Essa combinação juntou-se a outros ritmos, evoluiu, e no início do século virou a manifestação chamada frevedouro. Nessa época, era mais lenta, só depois que ficou agitada”, conta Dantas. Já a dança, conhecida como passo, é uma adaptação da capoeira. Tanto uma como a outra começam a fazer parte da vida dos recifenses logo cedo, pois boa parte das escolas ensina o ritmo tradicional e os mais de 50 passos à criançada. Agora, além de aprender na prática, elas terão a oportunidade de entender como tudo começou e ajudar a manter a tradição por muitos carnavais.