Rock candango

Cristina Romanelli

  • O fim da ditadura teve um ritmo diferente na Brasília dos anos 1980. Dezenas de bandas que surgiram ali, como Plebe Rude, Legião Urbana e Capital Inicial, usaram o rock’n roll como forma de reação. Nada disso escapou às lentes de Vladimir Carvalho, então professor de documentário da Universidade de Brasília (UnB). Em 1987, ele começou a filmar apresentações e a entrevistar os integrantes das bandas. O material, esquecido durante anos, está no documentário “Rock Brasília – Era de Ouro”, que estreou dia 21 de outubro. Os músicos candangos também serão lembrados em outros dois filmes que ainda vêm por aí: “Somos tão jovens”, sobre a criação da Legião Urbana, e “Faroeste Caboclo”, inspirado na música homônima de Renato Russo.

    “Era uma barulheira. Eles costumavam ensaiar em uma sala alugada no Rádio Center, um prédio de escritórios, e acabavam perturbando os vizinhos”, lembra o diretor Vladimir Carvalho. Boa parte desses jovens músicos era formada por filhos de diplomatas, intelectuais e políticos, e eles se encontravam no setor residencial de professores da UnB, conhecido como Colina. Daí veio o apelido de “turma da Colina”. “Eles não eram militantes, não estavam engajados, mas faziam uma forma de protesto. Nesse meio, Renato Russo foi o destaque. Produzia música de alta qualidade, tinha vários projetos e era um verdadeiro poeta”, conta Carvalho.

    O filme apresenta uma entrevista inédita com o cantor e compositor, feita em 1988, às vésperas da última apresentação da Legião em Brasília, no Estádio Mané Garrincha. O animado Renato, que esperava o “show de sua vida”, acabou sendo agarrado por um fã, teve que se desviar de bombinhas atiradas no palco e ainda presenciou uma confusão que teve um saldo de 400 feridos e 60 prisões. Depois desse dia, que também foi filmado por Carvalho, a banda nunca mais voltou à capital.

    Esses momentos da história da Legião também estão em “Somos tão jovens”, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura e com estreia prevista para julho de 2012. “A mensagem principal do filme é de superação. Mostramos desde o período em que Renato era um menino preso numa cadeira de rodas e sonhava em ser uma estrela do rock”, diz o cineasta.

    Antes da Legião, Renato formou a banda Aborto Elétrico, quando compôs músicas como “Que país é este?” e “Geração Coca-Cola”. Depois, chegou a se apresentar sozinho como “O trovador solitário”, com os sucessos “Eduardo e Mônica” – que recentemente voltou à mídia em uma campanha publicitária – e “Faroeste Caboclo”.Este último é também o nome do filme dirigido por René Sampaio, ainda sem data de estreia. Inspirada na canção de 159 versos, a produção conta a saga de João de Santo Cristo, desde que saiu de sua fazenda na Bahia até ser baleado por um traficante em Brasília. Embora não tenha nenhum dos músicos da Legião como personagem, o filme leva para a telona o dia a dia de jovens como os que viveram na Colina nos anos 1980.