Ele é carioca
Não, ele não nasceu no Rio de Janeiro. Ruy Castro é de Caratinga, Minas Gerais. Mas isto é só um detalhe. “Sou um carioca que nasceu longe de casa”, diz ele, fazendo graça das linhas tortas do destino. “Como vim ao mundo em fevereiro de 1948, imagino que alguma coisa aconteceu ali naquele sobradinho, na Rua da Lapa, onde meus pais moravam antes de seguirem para Minas”. Mas Ruy Castro não demorou a voltar para a cidade maravilhosa. A partir de 1967, já como repórter, trabalhou nos principais veículos de comunicação do Rio e de São Paulo. Pouco depois, tornou-se um dos maiores biógrafos do país. E adivinhe onde moravam todos os seus biografados?
Obsessivo, atento aos menores detalhes e disposto a desvendar qualquer história mais cabeluda, ele já escreveu sobre a bossa nova, a vida de Nelson Rodrigues, de Garrincha e de Carmen Miranda. Contou também uma breve história do Rio e montou sua própria enciclopédia sobre Ipanema. Fora as obras de ficção, humor, antologias e traduções – aliás, seus livros já foram publicados em Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Polônia, Rússia e Turquia.
O escritor recebeu a equipe da RHBN em sua casa, no Leblon, sempre com uma boa história na ponta da língua. Passeamos por muitas delas nesta entrevista. Ele falou da chamada “era de ouro” da MPB (de 1930 a meados dos anos 40), lembrou o curto convívio com Nelson Rodrigues e uma entrevista que fez no início de sua carreira com o então já famoso Tom Jobim, e descreveu a investigação minuciosa sobre a origem indígena de Garrincha. E, é claro, Ruy Castro se preocupa com o seu Rio de Janeiro, suas transformações inevitáveis e uma estranha ideia de progresso que marcou o desenvolvimento da cidade. “O que faço nos meus livros é devolver ao Rio o que ele me deu”.
REVISTA DE HISTÓRIA De onde vem a paixão pela música?
RUY CASTRO Eu tive uma infância musical riquíssima. Meus pais tinham uma quantidade gigantesca de discos de 78 rotações por minuto. Meu pai só gostava de cantores de voz forte, de masculinidade acima de qualquer suspeita: Chico Alves, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo... Abria uma exceção brilhante para o Mário Reis e tinha paixão por Carmen Miranda. Minha mãe, ao contrário, ouvia coisas mais modernas, como Orlando Silva, Dick Farney, Lúcio Alves, Frank Sinatra, Doris Day e as big bands americanas, além de boleros, tangos, música francesa, valsas vienenses. Então, era tudo isso tocando o tempo inteiro. Cresci ouvindo as principais obras da chamada “época de ouro” da música brasileira dos anos 30 até meados da década seguinte. Sou grato a eles por isso.
RH Por que podemos chamar o período de 1930 a 1945 de “época de ouro” da música brasileira?
RC Olha, se você for estudar a música popular dos países musicalmente mais importantes daquela época, um deles o Brasil, vai ver que foi um período de ouro para todos eles. Foi uma época em que a melhor música que este ou aquele país produzia era também a mais popular. Os melhores cantores eram também os mais famosos. Isso aconteceu nos Estados Unidos, na França, na Argentina, em toda parte. No Brasil, por uma confluência de fatores, você teve, entre 1930 e 1945, Ary Barroso, Lamartine Babo, João de Barro, Noel Rosa, Assis Valente, Orestes Barbosa, Wilson Batista... Eles estavam todos vivos e produzindo, fazendo dez grandes sambas ou marchinhas de carnaval por ano cada um. E não faltava gente para cantar. Só de cantores você tinha Chico Alves, Mário Reis, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Vicente Celestino... Sem contar a influência onipresente de Carmen Miranda.
RH Quando isso mudou?
RC Sempre que algo como uma guerra mundial acaba, há uma transformação no espírito da época, no chamado zeitgeist. As pessoas começam a pensar no mundo, ficam mais reflexivas. De repente, apareceu o samba-canção, e as pessoas começaram a achar que o negócio já não era sair sambando pelas ruas e, sim, dançar mais discretamente. E aí houve realmente uma grande banalização da música brasileira. Os cassinos, graças a Carmen Miranda, tinham sido o grande palco da música brasileira entre 1936 e o início dos anos 40. Mas, em 1946, o presidente Gaspar Dutra proibiu o jogo e fechou os cassinos. Foi uma tragédia, mas depois de um período de estupor, os músicos, compositores e cantores se reagruparam nas boates, que até então não existiam e cujo espírito era diferente. O Tom Jobim, que tocava piano nelas, as chamava de “cubo de trevas”. Elas eram menores, mais escurinhas e românticas, mas também mais sofridas. As pessoas as frequentavam para seduzir umas às outras, embora fosse difícil rolar alguma coisa. E isso teve um reflexo na música também, que era o samba-canção. De repente, por volta de 1960, a coisa mudou. Não era mais Copacabana, mas Ipanema. E não era mais o samba-canção, mas a bossa nova.
RH Como descobriu a bossa nova?
RC Ouvindo pelo rádio. Eu tinha onze anos em 1959, mas já estava preparado para gostar de bossa nova. Não houve aquele choque que muita gente teve quando ouviu João Gilberto pela primeira vez. Gostei imediatamente. Com 19 anos, já como repórter, acabei tendo acesso a muitos dos seus músicos mais importantes. Entrevistei Vinicius de Moraes no final de 67 para a revista Manchete. Lembro como se fosse ontem. Fui à casa dele na Gávea. Ele demorou um pouco para chegar à sala. Antes dele, saíram duas repórteres estagiárias, e depois veio o Vinicius todo cheirozinho, como se tivesse saído do banho. E, efetivamente, ele tinha acabado de sair da banheira, onde havia dado a entrevista. Em março de 68, fiz uma longa matéria com o Tom Jobim. Aquilo deixou de ser uma entrevista para ser um bate-papo, com os copos de chope se acumulando. E o Tom me contando coisas espetaculares: “Você acredita que essa noite passada meu pai apareceu para mim ao pé da cama? Ele morreu quando eu tinha cinco anos”. E eu ouvia aquilo com grande naturalidade. O Tom já era o Tom, tinha acabado de gravar com o todo-poderoso Frank Sinatra. E eu estava sentado ali com ele num bar, cada um tomando duzentos chopes, e o Tom me dizendo que conversava com mortos! [Risos]
RH Quais são os atributos de um biógrafo?
RC Ele tem que ir a todos os lugares. Não pode ter limites nem freios. Tem que tentar descobrir tudo, não pode proteger o biografado. Aliás, quanto mais cabeluda a história que ele apurar, maior é a sua obrigação de ir até o fim.
RH Já encontrou algumas histórias deste tipo?
RC Claro. Em cada livro, você se depara com coisas bem complicadas. Vou dar um exemplo. Havia duas histórias correntes sobre Garrincha. Uma dizia que ele era, na verdade, filho de uma irmã dele. A outra afirmava que teria estuprado uma filha da Elza Soares. Dois assuntos muito desagradáveis e melindrosos, não é? Mas era preciso ir até o fim. Por sorte, o desfecho das duas histórias era a favor do Garrincha. Mas, se fosse contra, eu teria que publicar.
RH A empatia com o objeto de estudo pode atrapalhar?
RC Não. Ao contrário: como eu parto não de uma empatia, mas de uma grande simpatia, até admiração, o personagem entra com um crédito muito grande na minha cabeça quando começo o trabalho de apuração. Dali eu começo a procurar informações que venham demolir essa admiração, para ver o que sobra. Eu procuro os problemas, os desvios de personalidade, as mentiras, as doenças graves, as dependências químicas. Tanto isso é verdade que, como todo mundo sabe, vivo tendo problemas com os parentes dos meus biografados. E alguns o público nem sabe, porque eles não chegam a entrar com processos. Mas todas as irmãs de Nelson Rodrigues, por exemplo, romperam comigo quando o livro saiu. Elas acharam que eu protegi a viúva dele, a dona Elza, que detestavam.
RH Suas biografias são ricas em detalhes. Como o biógrafo vai buscar esse tipo de informação?
RC O segredo é a quantidade. Você tem que ir no máximo de fontes que puder. Eu cheguei a extrapolar no livro da Carmen. Ouvi mais de duzentas pessoas. E eu fazia questão que fossem pessoas que tivessem convivido com a Carmen ou que a tivessem conhecido antes de ela ir para os Estados Unidos. Como ela foi para lá em 1939, meus depoentes já teriam, no mínimo, 80 anos. Onde eu iria encontrar uma grande quantidade de pessoas de 80 anos em diante que me dessem informações de primeira mão sobre Carmen? Comecei com o querido Jorginho Guinle, que já estava com oitenta e tantos e tinha sido amigo da Carmen no Rio e depois nos Estados Unidos. Ele me passou os nomes de outros quatro ou cinco amigos que tinham conhecido a Carmen. Foi assim que tudo começou. E as pessoas costumavam reproduzir a fala da Carmen e o seu jeito de falar. Aí, com o passar do tempo, já me foi possível definir o som da voz da Carmen, suas inflexões e expressões, a música da sua fala. Isso porque as descrições que eu tinha eram muito consistentes.
RH Você também se preocupa com a reconstituição do contexto, não?
RC Sim. Preciso saber o que estava acontecendo em volta do personagem. Tenho que perguntar para as pessoas que estavam vivendo aquele período, participando daqueles episódios todos, como era a vida naquele momento. Aliás, essa questão me faz lembrar de quando cheguei a esse método de trabalho que hoje utilizo.
RH Poderia falar sobre isso?
RC É simples. Quando eu estava apurando para o livro Chega de Saudade, li tudo que já havia saído a respeito. Alguns eram os fascículos sobre bossa nova da Editora Abril, e de cara descobri que não era aquilo que eu queria fazer. Era o seguinte: em um capítulo sobre bossa nova havia informações do tipo: “João Gilberto gravou ‘Chega de saudade’ no dia 10 de julho de 1958. Naquele ano, Juscelino Kubitschek estava fazendo a indústria automobilística em São Paulo. Já em Volta Redonda etc”. Ou seja, o texto interrompia a narrativa para me dar uma aula de três páginas sobre a História do Brasil. E para onde ia o João Gilberto? Entendi que não podia fazer daquele jeito. Era preciso dar conta do contexto, mas de outra maneira. Por sorte, esses meus personagens viveram em épocas ricas da História do Brasil. Por exemplo, O Anjo Pornográfico: todo o começo do livro, antes mesmo do Nelson entrar em cena, traça a trajetória do pai dele, o jornalista Mário Rodrigues, como protagonista da República Velha.
RH Aí entra em campo o historiador, não é?
RC É. E eu sempre acabo tendo que pesquisar muito. Tenho uma história impressionante sobre isso. Quando eu estava apurando para o livro sobre o Garrincha, a Elza Soares me contou ter feito um show para o presidente Jango no Automóvel Club, e que por isso, logo depois do golpe, a polícia política invadiu a casa deles na Ilha do Governador. Como não acharam nada de subversivo, por vingança mataram o passarinho que o Carlos Lacerda havia dado ao Garrincha. Empolgado, perguntei a ela: “Elza, você deu um show para o Jango no Automóvel Club? Então, deve ter sido no dia 30 de março de 64, o famoso pronunciamento para os marinheiros. Foi quando os militares ficaram nervosos lá em Minas Gerais, marcharam sobre o Rio e derrubaram o presidente. Foi nessa noite?”. E ela: “Ah, sei lá. Só sei que eu fiz um show para ele”. “Sim, mas você sabe se ele fez um discurso antes? Tinha muito marinheiro lá?”, perguntei. “Ah, eu não lembro de nada”, respondeu. É assim que você recebe informações. Levei meses, mas finalmente consegui apurar que a Elza dera, de fato, um show no Automóvel Club naquela noite, daí a agressão que sofreram depois.
RH E o caso da origem indígena do Garrincha?
RC Certo dia, a irmã mais velha do Garrincha me disse que a família deles descendia de índios nordestinos. Ela não sabia de que tribo se tratava. Bom, aí perguntei algumas coisas sobre os hábitos da família. Ela me disse que as crianças tomavam uma mistura de cachaça com mel e canela em pau. Seu pai e seu avô já haviam sido criados dessa maneira. Com informações deste tipo, fui à luta. Não entendo nada de índio, o que eu fiz? Fui procurar a coleção Brasiliana, os livros sobre populações indígenas do Nordeste, sobre as migrações indígenas do século XIX. Depois de um bom tempo, acabei chegando à tribo fulniô, de Alagoas. Um amigo me passou o contato do filho do cacique da tribo. Ele me confirmou várias informações, incluindo aquela da mamadeira à base de cachaça. Tudo batia perfeitamente. O curioso é que tudo isso começou da maneira mais casual do mundo, quando conversava com a irmã do Garrincha.
RH Os historiadores sempre ficam esperando por esses momentos.
RC Pois é. E eu trabalho de uma maneira tão obsessiva, tão insuportavelmente fanática, que não faço mais nada. Passo o dia inteiro cuidando do personagem. Não penso em mais nada. Não almoço fora de casa, não vou à praia, não vejo show etc. É o dia inteiro em função do livro.
RH Todos os seus personagens viveram no Rio. Por quê?
RC O trabalho de levantar informações sobre a vida do personagem, sobre a época, sobre as pessoas que o cercaram, já é uma coisa monumental – uma biografia é feita de milhões de partículas de informação –, e daí que, se você ainda tiver que aprender tudo sobre o cenário, sobre o entorno da história, você vai levar dez anos para escrever o livro. Então, prefiro trabalhar com um território que conheço. Para mim, esse território é o Rio, de Bangu ao Leblon. Isso facilita.
RH Mas você não nasceu no Rio, não é?
RC Pois é. Como muita gente, sou um carioca que nasceu longe de casa. Na verdade, era para eu ter nascido no Rio. Meus pais moravam na Lapa em 1947, quando tiveram que se mudar para Minas Gerais a trabalho. E eu acabei nascendo lá. Mas, enfim, como nasci em fevereiro de 48, imagino que alguma coisa aconteceu ali naquele sobradinho, na Rua da Lapa, quase ao lado do que hoje é o Bar e Restaurante Ernesto.
RH O Rio é um ícone do Brasil. Como isso aconteceu?
RC Veja, existe uma teoria que circula em determinadas regiões do Brasil tentando explicar, por exemplo, por que os clubes de futebol do Rio são os mais populares. Eu acho que essa teoria se baseia em duas concepções erradas. Uma delas é dizer que a fama dos clubes do Rio se deu pelo fato de a Rádio Nacional transmitir o campeonato carioca, o que é uma piada, porque a Rádio Nacional só começou a ficar influente nos anos 40, e os times do Rio já eram nacionalmente queridos muito antes. Outra falácia é afirmar que era por ser a capital do país que o Rio tinha todo esse cartaz. É claro que uma cidade, sendo capital, vai concentrar os negócios, as decisões políticas, as mudanças sociais. Mas o Rio não é capital há exatamente 50 anos. E não me consta, por exemplo, que o Gama ou o Brasiliense sejam os times mais populares do Brasil. Tampouco tenho conhecimento de que os brasileiros viajam a Brasília avidamente para conhecer a capital do Brasil e respirar aquela atmosfera de liberdade e de fascínio, como faziam em relação ao Rio. E sempre fizeram.
RH De onde vem, então, esse fascínio pela cidade?
RC O fascínio, o charme e a importância do Rio não estão no fato de o Rio ter sido capital, e sim no fato de o Rio ter sido o Rio. Uma cidade à beira-mar, que recebeu gente vinda de todas as partes de fora e de dentro do Brasil. As pessoas realmente tinham um fascínio pela coisa do Rio. Elas vinham aqui passear, curtir a cidade. Depois voltavam para os seus burgos de origem levando consigo os valores cariocas: torcer por um time do Rio, poder descrever um carnaval... O próprio príncipe regente, D. João, futuro D. João VI, quando veio para o Brasil, não quis ficar em Salvador. Por mais que os baianos tivessem feito de tudo para ele ficar por lá.
RH O Rio é também um celeiro de artistas.
RC É verdade. Muitos não eram cariocas. Acabavam vindo para cá, em especial os compositores. Você pega a história do samba, por exemplo, a partir dos anos 20: Ary Barroso, mineiro; Geraldo Pereira, mineiro; Alcir Pires Vermelho, mineiro; Wilson Batista, fluminense; Dorival Caymmi, baiano; Assis Valente, baiano... Eu fico me perguntando: se esses compositores tivessem ficado nas suas cidades de origem, o que teria acontecido com eles? Talvez nada. Certamente não fariam a obra que fizeram.
RH Qual é a sua opinião sobre as transformações ocorridas no Rio nessas últimas décadas?
RC Olha, a Heloísa Seixas, minha mulher, tem uma teoria muito interessante sobre por que algumas pessoas tendem a ficar dizendo: “Ah, o Rio era bom naquela época, nos anos 60. Hoje está decadente, não tem mais isso, não tem mais aquilo”. Ela percebeu que a maioria dessas observações é feita por pessoas que vieram de fora. Elas chegavam por aqui com 18 anos. Não tinham como não se maravilhar com a cidade, o choque que o sujeito tinha com o que havia deixado para trás era muito grande. Então, a pessoa cristalizou esse Rio na cabeça. Às vezes, essa nostalgia vem combinada com uma saudade de sua própria juventude. Mas quem nasceu e vive na mesma cidade a vida toda compreende que algumas mudanças são inevitáveis. Ou, pelo menos, inevitáveis em termos.
RH Quais, por exemplo?
RC O Leblon até outro dia era vazio, não tinha nada, só terreno baldio cercado de tapumes, ou nem isso. O capim crescia nas calçadas. Nos anos 60, só se vinha ao Leblon para fins de sacanagem – eu mesmo fiz isso, na praia aqui em frente [Risos]. Não tinha luz, não tinha nada, nem bandido. A Lagoa tinha uma favela monumental, a Praia do Pinto, com milhares e milhares de barracos. A Catacumba era outra favela. E, na cidade toda, não havia nenhuma preocupação em preservar prédios históricos; podia-se derrubar qualquer coisa. Enfim, qualquer análise um pouco mais isenta mostrará que muita coisa boa aconteceu desses anos para cá. Nem tudo nos chamados “anos dourados” era tão dourado assim. Daqui a dez, quinze anos, a grande nostalgia vai ser pelos anos 80 ou 90 do século XX, pode crer. É sempre assim.
RH Você sente saudade daquele Rio?
RC Não. Sou muito interessado no que acontece com as cidades de um modo geral, principalmente com o Rio. Mas procuro ter uma visão mais neutra do processo. Sei que algumas coisas não poderiam ter sido de outra maneira. E, além disso, não preciso ter a menor saudade da minha infância ou juventude porque sempre fiz tudo que quis. E continuo fazendo. A vida não me deve nada para eu ficar lamentando: “Ah, como era bom, como eu gostaria ter de novo 20 anos”. Eu tenho 62 e estou achando ótimo. Na verdade, o que faço nos meus livros, nessa pequena militância em prol da cidade e tudo mais, é tentar devolver ao Rio tudo que ele me deu. Mas nunca vou conseguir devolver tudo.
Alguns livros de Ruy Castro:
Chega de saudade(Cia. das Letras, 1990)
O anjo pornográfico(Cia. das Letras, 1992)
Estrela solitária(Cia. das Letras, 1995)
Ela é carioca(Cia. das Letras, 1999)
Carnaval no fogo(Cia. das Letras, 2003)
Carmen(Cia. das Letras, 2005)
Era no tempo do rei(romance, Alfaguara, 2007)
Ruy Castro
Rodrigo Elias e Adriano Belisário