No século XIX, o sul do Paraná acolheu levas de famílias que vinham de países da Europa Central. Esses imigrantes – poloneses, ucranianos, alemães – chegavam ao Brasil com o conhecimento necessário para trabalhar na agricultura. Estabeleciam-se em pequenas vilas e, assim que podiam, construíam uma igreja para servir de ponto de encontro. Parte dessas igrejas reproduzia a arquitetura dos templos bizantinos europeus – com um detalhe: eram feitas de madeira, pois a alvenaria saía cara e a região era rica em pinho, peroba, ipê e outras árvores.
Durante os últimos dois anos, o fotógrafo Nego Miranda retratou igrejas de diversos municípios do sul do Paraná, dando origem ao livro Igrejas de Madeira do Paraná. O livro, feito em parceria com a arquiteta Maria Cristina Wolff de Carvalho, está concorrendo ao Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade de 2006, patrocinado pelo Iphan. Em 2005, a pesquisa foi tema de uma exposição no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
Nego Miranda conta que, embora as igrejas sejam belas e razoavelmente conservadas, não se surpreende com iniciativas de demolição e substituição dessas construções:
– Uma das igrejas foi demolida cinco dias após ser fotografada. Isto acontece por duas razões: em primeiro lugar, elas foram construídas para serem provisórias, pois a madeira, por melhor que seja, acaba definhando com o passar dos anos. Mas a segunda e mais importante razão é que muita gente associa a madeira à pobreza. Assim, a igreja acaba sendo vista como um retrato negativo do município, tendo que ser posta abaixo. E isso não tem o menor sentido do ponto de vista espacial, pois todas elas ficam em áreas rurais, onde não faltam terrenos.
Nos municípios que visitou, Nego Miranda viu igrejas de vários tamanhos e formatos. Em Antônio Olinto, a igreja bizantina da Imaculada Conceição, de 1911, é repleta de pequenas cúpulas arredondadas, herdadas da arquitetura ucraniana. Em Mallet, a igreja de São Miguel Arcanjo, de 1903, tem na entrada frases escritas no alfabeto cirílico. Além destas, que foram construídas em formato de cruz ortodoxa, há edificações retangulares, quadradas e octogonais.
Hoje, as igrejas de madeira mais bem conservadas pertencem aos cultos bizantino e ortodoxo. Com o passar dos anos, sua arquitetura passou a exibir o sincretismo com a das igrejas católicas, mas a tradição se manteve inalterada. Elas eram, e ainda são, os pontos de encontro onde descendentes de ucranianos e poloneses relembram suas festas e seus ritos.
Santuários de madeira
Roberto Kaz