Rio por onde corre a imaginação dos homens e sua cobiça. O rio Doce, que cruza Minas Gerais e Espírito Santo, guarda trepidantes histórias. Desde os séculos XVI e XVII os colonizadores portugueses estavam obcecados pela busca de uma fantástica serra de esmeraldas, supostamente localizada para além de seu sertão, região cercada de inúmeros mistérios e perigos. Nos séculos seguintes, pelo rio penetraram aventureiros atrás de ouro, caçadores de índios, escravos fugidos, criminosos, contrabandistas e naturalistas estrangeiros, como Saint-Hilaire (1818) e Wied-Neuwied (1815-1817), que percorreram seu trajeto para fazer observações de campo.
Dos perigos mais temidos se destacavam os botocudos, antropófagos, terror dos brancos e de outras tribos. A idéia de um grupo indígena “terror das florestas do rio Doce”; “insaciáveis em carne humana”; “nação ferocíssima”; “última expressão dos aimorés decadentes” foi fundamental para o esforço de conquista do sertão pela guerra-justa patrocinada pela Coroa portuguesa e, posteriormente, pelo Império do Brasil.
Em um ensaio instigante, Haruf Espindola retoma essas e outras histórias da conquista e ocupação dos sertões do rio Doce, canal privilegiado de ligação de Minas Gerais com portos marítimos e uma das portas de entrada para as riquezas das minas. No livro, o território e o meio ambiente aparecem como objetos de investigação histórica, enriquecendo o debate acerca da conquista e consolidação do território brasileiro.
Sertão do rio Doce
Haruf Salmen Espindola