Céu aberto no lugar de teto e paredes monumentais. Festas tradicionais no lugar de vitrines para proteção de obras raras. Moradores locais no lugar de guias uniformizados. Este é o Museu do Patrimônio Vivo de João Pessoa, cuja proposta é a valorização das expressões culturais da capital paraibana, premiado na categoria patrimônio imaterial na última edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, concedido pelo Iphan. Criado em junho de 2012, o projeto capacitou como agentes culturais cerca de 300 jovens entre 15 e 25 anos, de 15 comunidades de João Pessoa. Além disso, produziu um catálogo de bens culturais, um site e uma exposição itinerante. “Estamos em fase de conclusão desses produtos para que sejam lançados de forma conjunta, em setembro, nas localidades participantes”, acrescenta Moysés Siqueira Neto, supervisor técnico do Museu.
A ideia surgiu por meio da participação da equipe do Museu no Fórum das Culturas Populares Tradicionais da Paraíba, em março de 2012. “Tomamos conhecimento de várias demandas, dentre elas a falta de envolvimento dos jovens, a dificuldade de acesso às políticas de fomento à cultura, a falta de publicações que divulgassem tais práticas”, explica Marcela de Oliveira Muccillo, coordenadora geral do Museu.
A formação dos agentes culturais teve como base o ensino das disciplinas de língua portuguesa, educação patrimonial, informática, direito cultural, economia criativa e elaboração de projetos. “Oresultado mais significativo para as comunidades beneficiadas pelo projeto tem sido o processo de empoderamento por parte dos jovens, que têm cada vez mais se sentido responsáveis por contribuir e propor ações de fomento e salvaguarda dos bens imateriais em suas próprias comunidades”, declara Muccillo.
O inventário do patrimônio vivo foi feito com base na metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Iphan. No primeiro momento, foram mapeados os diversos bens culturais que são referências de cada bairro de João Pessoa: os agentes culturais fizeram pesquisas bibliográficas e de campo para reconhecer suas referências culturais mais importantes e identificar seus principais mestres, práticas, lugares e objetos, totalizando mais de 100 itens. “Na segunda etapa, os agentes selecionaram apenas alguns bens, mais representativos de cada comunidade, para aprofundar suas pesquisas. Estes totalizaram 30 e ganharão destaque tanto no catálogo como na exposição itinerante”, acrescenta Moysés Siqueira Neto.
Para Luiz Phillipe Torelly, diretor do Departamento de Articulação e Fomento do Iphan, a proposta do Museu do Patrimônio Vivo de João Pessoa revoluciona o conceito de museu. “Normalmente, quando falamos de museu, pensamos em um edifício grande, cheio de objetos atrás de vitrines. É estático, parado no tempo”, explica. “Esse projeto propõe que cada bairro de João Pessoa é um museu aberto, vivo, e fazem parte as manifestações culturais e a atuação das comunidades locais”, completa.
Mais informações sobre o Museu do Patrimônio Vivo de João Pessoa em: http://museudopatrimoniovivo.blogspot.com.br/.
Sob o céu paraibano
Déborah Araujo