Tarsila em dobro

Bernardo Camara

  • Viagens para o exterior, quatro casamentos, uma prisão política e muita troca de ideias com outros artistas. A vida de Tarsila do Amaral (1886-1973) era uma agitação só. E muito tempo depois de sua morte, seu nome e sua obra continuam ecoando por aí. Uma das responsáveis por isso é sua sobrinha-neta, que tem o mesmo nome. Aos 44 anos, Tarsilinha, como é conhecida, criou um site (tarsiladoamaral.com.br), escreveu um livro – Tarsila por Tarsila –, organiza exposições e se prepara para levar a tia-avó às telonas.

    Bem à maneira da artista, Tarsilinha vai tocando os novos projetos com a cabeça a mil.  Não será apenas um longa-metragem que vai estrear em breve, mas dois. Um deles, de animação. O outro, um documentário. Enquanto o segundo corre atrás de recursos, o primeiro caminha a passos largos e deve estrear no ano que vem.

    “Minha tia tem uma ligação muito forte com o público infantil, pelas cores e temáticas de sua obra. Além disso, todas as escolas estudam Tarsila”, explica.

    A produtora paulista TV Pinguim – que encantou a garotada com a série para TV “Peixonautas” – assumiu o comando do projeto. O roteiro está pronto e a personagem, criada. Vai se chamar Tarsilinha, mas não terá nada de biográfico. “O filme não vai ter a preocupação de passar informação histórica. Preferimos algo mais ligado ao mundo da fantasia, da imaginação”, diz Celia Catunda, uma das criadoras.

    Mas isso não quer dizer que as referências à artista ficarão de fora. Pelo contrário. Toda a história vai se passar em um universo cenográfico inspirado nas pinturas de Tarsila. “A personagem vai viajar para um mundo imaginário baseado em toda a linguagem visual das obras da artista”, explica Celia. Enquanto a história se desenrola, os conhecidos traços da modernista viram pano de fundo.

    Tarsilinha garante que o filme vai agradar ao público de todas as idades. Mas quem duvidar disso pode aguardar o documentário, que, aí sim, vai explorar a vida e a obra de Tarsila do Amaral. O roteiro ainda está sendo trabalhado, mas, a exemplo do que fez em seu livro, ela pretende contar aspectos pouco conhecidos do cotidiano de sua tia.  “Claro, também não podemos falar dela sem entrar no movimento modernista e nos artistas que a rodearam”, adianta.

    Enquanto os recursos não vêm, o time montado por Tarsilinha vai discutindo os caminhos da produção, que será dirigida por Erico Rassi. “Se tudo der certo, começaremos a filmar ainda este ano”, torce Tarsilinha.