Há 70 milhões de anos, em volta de lagos e rios, viviam os titanossauros. Em grupos, com seus pescoços compridos, praticamente paralelos ao chão, comiam samambaias e aninhavam seus ovos em buracos suavemente escavados no solo. Essas conclusões foram tiradas pelo estudo de partes do esqueleto do animal, pegadas e outros indícios. O primeiro fóssil da espécie foi encontrado na Índia em 1877 e identificado com base em apenas duas vértebras da cauda. Agora, pesquisadores brasileiros contam com uma ossada praticamente inteira, encontrada em Marília, interior paulista.
O autor da descoberta é William Nava, coordenador do Museu de Paleontologia de Marília. Graduado em História, nascido e criado na cidade, Nava sempre se interessou por paleontologia e por conta própria estudou e foi para campo. “Em abril de 1993 encontrei o primeiro fóssil [fragmentos ósseos de outro titanossauro] da cidade, o que indicou que no oeste paulista poderiam ser encontrados outros fósseis”, lembra. No mesmo mês, 16 anos depois, o coordenador descobriu o titanossauro de cerca de 15 metros de altura.Nava conta que, embora o encontro da ossada tenha sido fruto de investigação, o fator sorte também atuou. “Naquele mês, fui analisar um barranco exposto há muitos anos, na beira de uma estrada [rodovia SP-333] a cerca de 26 quilômetros de Marília. Quando construíram a estrada, há uns 60 anos, ninguém percebeu que havia um fóssil ali. Com o passar das décadas, as rochas foram lapidadas pela chuva e pelo vento, e os ossos começaram a aparecer na beira do acostamento. Estive lá no momento certo em que os fósseis estavam em condições de serem notados e resgatados”, explica entusiasmado.Unindo-se ao professor de paleontologia Rodrigo Santucci, da Universidade de Brasília (UnB), deu início às escavações em março de 2011. “Esse dinossauro pertence a um grupo comum que viveu no Período Cretáceo. A grande questão é que geralmente as espécies conhecidas são representadas apenas por alguns ossos. No caso, temos um esqueleto quase inteiro, faltando apenas patas, parte do pescoço, do crânio e boa parte da cauda”, explica Santucci. “Por estar muito completo, temos a expectativa de que nos esclareça alguns aspectos sobre a evolução do grupo e seus hábitos de vida”, acrescenta.
Desde fevereiro os ossos estão na UnB de Planaltina, com equipe de cinco pesquisadores preparando os fósseis. Essa é a etapa em que a rocha que envolve os ossos é separada, “com raspadores de dentista ou com um tipo de britadeira em miniatura (do tamanho de uma caneta). Esse trabalho pode demorar de semanas até alguns anos”, explica Santucci. Depois o fóssil é estudado, então serão feitas réplicas, as primeiras da UnB. “Atualmente estamos tentando escanear os fósseis que temos para imprimir em plástico com uma impressora 3D. Ainda estamos em fases de teste, mas os resultados são bem animadores”, antecipa o professor. A ideia é que se façam duas réplicas do titanossauro: uma para a UnB e outra para o Museu de Marília.
Titanossauros de Dirceu
Angélica Fontella