Título em risco

Fernanda Távora

  • Fundado em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu, no estado do Paraná, é um dos maiores remanescentes de floresta Atlântica no sul do país, dono de uma rica biodiversidade. No entanto, o parque corre o risco de perder o título de Patrimônio Natural da Humanidade. Isto porque um relatório publicado este ano pelo Comitê do Patrimônio Mundial, órgão ligado à Unesco, indica que a antiga Estrada do Colono e a construção da Hidrelétrica do Baixo Iguaçu, a 500 metros dos limites do território, são ameaças para a preservação da região.
     
    Com a perda do título, o Parque do Iguaçu, que é o segundo mais visitado do país, pode amargar uma baixa na quantidade de visitas turísticas, além de perder investimentos para a preservação da fauna e flora local. Segundo nota do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra as unidades de conservação do país, a hidrelétrica não apresenta grande perigo, mas a Estrada do Colono é veementemente proibida pela administração: “a reabertura da estrada comprometeria a integridade dos recursos desta área protegida de importância global por causa de sua diversidade biológica”.
     
    Aberta anos antes de o parque ganhar o título de Patrimônio Natural da Humanidade, a Estrada do Colono, com 17 km de extensão, divide o território de 185 mil hectares do Parque do Iguaçu em dois. A estrada foi fechada e reaberta algumas vezes, mas por determinação do Ministério Público Federal teve decretado seu fechamento definitivo em 2003.
     
    Apesar da decisão do Ministério, corre no Congresso Nacional o projeto de lei, de autoria do deputado federal Assis do Couto, para a abertura de uma Estrada-Parque no antigo leito da Estrada do Colono. O texto do projeto explica que a estrada é uma via de acesso dentro de uma unidade de conservação, cujos formato e dimensões são definidos pelos aspectos históricos, culturais e naturais a serem protegidos.
     
    Segundo Assis, a abertura da Estrada-Parque colaboraria para um aumento do turismo local, que carrega parte da história do país, como a Coluna Prestes, que usou a antiga Estrada do Colono em sua passagem pelo sul do país. “O projeto de lei prevê que a estrada não será aberta ao trânsito de veículos de carga e será um acesso à unidade de conservação, e não uma passagem como era utilizada anteriormente”, explica o deputado. “Haverá ainda um estudo do impacto ambiental para que a estrada seja compatível com a unidade de conservação”, conclui.
     
    Entidades, pesquisadores e ONGs ligadas à União Internacional de Conservação da Natureza se manifestaram contra a iniciativa em uma carta enviada à Unesco em 2013. Na carta, é dito que “dados históricos não mostram quaisquer efeitos positivos da Estrada do Colono sobre a economia local, regional, estadual ou nacional”. O documento destaca ainda que o projeto de lei pretende alterar a legislação nacional para atender a interesses pontuais, afetando a conservação da biodiversidade não apenas no Parque Nacional do Iguaçu, mas também em outras unidades de conservação. 
    Estrada e hidrelétrica são ameaças para a preservação do Parque Nacional do Iguaçu, uma das maiores reservas de mata Atlântica do sul do país. (Foto: Arq PR Turismo)