Todos querem sê-lo

Adriano Belisário

  • Conhecida como filatelia, a arte de colecionar e estudar selos tem longa história no Brasil. O país foi um dos primeiros a adotar a reforma postal do século XIX e, assim, utilizá-los para transferir o custo de envio das cartas dos destinatários para os remetentes. Definir quais os temas dos selos brasileiros é tarefa da Comissão Filatélica Nacional, eleita anualmente pelo Ministério das Comunicações.

    Pela lei, os selos devem se referir a ações governamentais, preservação do meio ambiente, eventos ou personalidades históricas, entre outros temas “nobres”. Porém, a minúcia da regulamentação não põe rédeas na imaginação popular, que se expressa livremente por cartas e através do canal “Sua ideia pode virar selo!”, no site dos Correios.

    “Inesquecível foi um pedido que nos chegou sobre uma homenagem ao cadáver. Inicialmente nos pareceu macabro, mas a ideia era ressaltar a importância da utilização de corpos para o avanço das pesquisas científicas”, lembra Maria de Lourdes, chefe do Departamento de Filatelia e Produtos dos Correios. Em 25 anos de trabalho na instituição, ela já se acostumou com solicitações pitorescas e pessoais. Difícil imaginar um selo para homenagear Osama Bin Laden, como sugeriu um, ou as mulheres bruxas, como quis outro. Teve até pai coruja que pediu para a sua pequena “Patchuca” ser celebrada nas correspondências brasileiras. Afinal, não custa tentar.

    Na disputa por aquele pequeno espaço, chegam aos Correios mais de mil pedidos por ano, vindos de órgãos governamentais, pessoas físicas e jurídicas. Destes, cerca de 30 são selecionados. Costumam retratar o momento político atual ou comemorar alguma efeméride – caso, este ano, dos combustíveis renováveis e dos centenários de Carmen Miranda e de D. Helder Câmara, por exemplo.

    Entre as figuras históricas, algumas passam com louvor pelo crivo da seleção, como Maurício de Nassau, que também virou selo este ano. Já outras emperram em polêmicas. Uma sugestão repetidamente recusada, mas sempre reapresentada, é a homenagem a Lampião. “Esta já foi pedida várias vezes. Ele é muito importante historicamente, mas existe uma corrente que o vê como alguém ligado à violência, ao banditismo. Respeitamos muito essa figura, mas não podemos trazer a polêmica para a filatelia”, argumenta Lourdes.

    Se você tem uma ideia brilhante para estampar os selos do Brasil, precisa esperar a seleção para 2011. Os temas do ano que vem já estão todos definidos.