Transporte limpo

Cristina Romanelli

  • Foto da inauguração do trólebus, em agosto de 1963.

    O primeiro bonde puxado por burros começou a circular em Santos em 1871, antes mesmo da capital, São Paulo. O serviço foi crescendo, passou a ser elétrico, mas acabou extinto em fevereiro de 1971. Entre os motivos estava a pressão dos fabricantes de ônibus. História parecida quase acontece com o trólebus, espécie de ônibus ligado a cabos elétricos. Instalado na cidade em 1963, ele chegou a fazer um percurso de mais de 70 quilômetros. Mas desde a década de 1980 o sistema vem sendo substituído por ônibus convencionais. A última linha que resta, embora continue em uso, estava sendo abandonada aos poucos, quase sem manutenção, mas pode ser salva em breve. O Ministério Público está negociando um acordo para tombá-la, revitalizar os carros e talvez até criar um passeio turístico este ano.

    Da praça onde fica a prefeitura até a praia, quatro trólebus vão e voltam com moradores, que utilizam diariamente o transporte. Mas nem tudo funciona às mil maravilhas. De acordo com Daury de Paula Júnior, promotor de Justiça de Urbanismo e Meio Ambiente de Santos, é comum os carros quebrarem e serem substituídos por outros a diesel. “Hoje só temos três carros da década de 1970 e um da de 1960 em funcionamento. Mas queremos mais transportes de energia limpa assim na cidade”, diz ele.

    Dois pedidos de tombamento da linha foram feitos em 2006 pelo historiador Waldir Rueda, morador da cidade. Além da preservação do patrimônio, Rueda tomou a iniciativa pensando também nas vantagens do trólebus para o meio ambiente. Como suas solicitações foram arquivadas, ele insistiu novamente em 2009.

    Um dos motivos para retomar a iniciativa foi o incêndio no motor de um dos carros, ocorrido no mesmo ano. “Isso aconteceu por falta de manutenção. Parece que o objetivo da empresa concessionária era esse, deixar os trólebus estragarem aos poucos, já que não dão lucro”, denuncia Rueda. Como o processo foi arquivado pelo município, agora a promotoria está tentando um acordo com a prefeitura e a concessionária, a Viação Piracicabana, para fazer a inscrição da linha no livro do tombo e iniciar um projeto de revitalização ainda este ano. Também participará do acordo o dono de um dos 50 trólebus Fiat importados da Itália em 1963. Ele comprou o carro em um leilão feito pela administração de Santos na década de 1990 e o levou para sua fazenda, em Conchal Paulista. Segundo o promotor, existe a possibilidade de o veículo ser tombado no local ou de voltar para Santos.

    Um dos projetos que serão definidos pelo acordo é a interligação da linha de trólebus com o circuito turístico de bonde na Praça Mauá, onde fica a prefeitura. O passeio de bonde, inaugurado em 2000, passa por pontos do centro histórico da cidade, como o Teatro Coliseu e o Palácio Saturnino de Brito. Para completar o clima nostálgico, os trólebus devem receber pintura igual à da primeira frota, em prata e vermelho, e voltar a ter a mesma cara dos anos 1960.