Muito já se falou sobre Tom Jobim (1927-1994). A simplicidade, o amor pelo Rio de Janeiro, o sucesso mundo afora, a grande contribuição para a bossa nova, no final dos anos 1950. Mas que tal mostrar isso sem nenhuma palavra, usando apenas música? Esta foi a opção dos cineastas Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, neta do maestro, no filme “A Música Segundo Antônio Carlos Jobim”, que estreia dia 20 deste mês. Num longo trabalho de edição, a dupla de diretores reuniu interpretações que vão de Elis Regina com “Corcovado” a Frank Sinatra e Tom cantando “Garota de Ipanema”. Nelson também está com outro filme no forno, chamado “A Luz do Tom”. Ainda sem data de estreia, ele pretende contar a história do maestro por meio da visão das três mulheres mais importantes de sua vida: Helena, sua irmã; Teresa, a primeira esposa; e Ana, sua viúva.
“Colocamos algumas gravações do Tom porque é bom ver o autor cantando as próprias músicas, mas mostramos também outras interpretações. Dá para ver as emoções dos cantores, sem ninguém ter que explicar ou dizer nada. Só damos informações nos créditos finais”, diz Dora. Uma das interpretações foi encontrada por ela já quase na finalização do longa: a atriz Judy Garland (1922-1969) cantando “Insensatez”. “As músicas do vovô são tão clássicas e tão gravadas que é difícil encontrar boas gravações. Só o que tem de gente aprendendo violão que se filma tocando Tom...”, brinca Dora.
O maestro é um dos brasileiros mais conhecidos no exterior. Gravou em 1967 “Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim”, único álbum que o norte-americano dividiu com outro músico. Além disso, “Garota de Ipanema” é uma das cinco músicas mais tocadas de todos os tempos. “Este é o primeiro filme sobre Tom, o mais importante compositor brasileiro, mais até do que Villa-Lobos, no sentido da repercussão e da aproximação com a cultura. E tudo aconteceu num momento fundamental da nossa história: a consolidação da arte moderna, ainda que tardia. Ele achou a essência da expressão da cultura brasileira. Usava uma linguagem complexa com resultados simples, que todo mundo entende. Foi um melodista sem igual, harmonizador, cantor, letrista... Ele era grandioso”, afirma Hugo Sukman, curador do projeto do novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e autor de “Histórias Paralelas: 50 anos de música brasileira” (Casa da Palavra, 2011).
Depois da morte de Tom, muitos amigos, conhecidos e até redes de televisão enviaram imagens e cópias de gravações para o Instituto Antônio Carlos Jobim, comandado por Paulo Jobim, pai de Dora. De lá saiu parte do material usado no filme, mas os originais tiveram que ser buscados em acervos pelo mundo inteiro. “Só percebi a repercussão internacional que isso teve depois que vovô morreu. Também vi agora, enquanto fazíamos o filme, a quantidade de artistas que gravou músicas dele... Ele era muito simples, sossegado, apesar do sucesso. Passava o dia na rua, no bar com amigos. Ninguém corria atrás dele”, lembra Dora.
Saiba Mais - Internet
Instituto Antônio Carlos Jobim: www.jobim.org/
Trilha sonora em primeiro plano
Cristina Romanelli