Vestígios de um conflito

Déborah Araujo e Fernanda Távora

  • A Guerra do Paraguai, tão retratada em mapas e pinturas, também pode ser estudada por meio das correspondências preservadas no acervo da BN. (Fundação Biblioteca Nacional)A Biblioteca Nacional possui diversos documentos, fotografias, cartas e mapas que contam em detalhes a história da Guerra do Paraguai (1865-1870). Os documentos da BN podem servir como base para se compreender melhor o conflito que uniu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, governado por Solano Lopes.
     
    Diários são os documentos mais raros entre os registros oficiais da Guerra e, talvez por conta disso, os mais interessantes. Um exemplo é o diário do tenente-coronel brasileiro Albuquerque Bello. O professor Ricardo Salles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi quem organizou o documento para publicação. Segundo ele, as anotações do oficial mostram um lado desconhecido do episódio: o cotidiano das tropas nos acampamentos. “É um relato mais humano sobre a guerra. No diário, o tenente-coronel fala sobre o período em que comandava um batalhão que foi dizimado pela varíola antes do final do conflito”, ressalta o pesquisador. 
     
    O diário de Albuquerque Bello integra a coleção Mario Barreto (1877-1938), que pertence ao acervo da BN sobre Guerra do Paraguai e contém 1.057 documentos de fontes oficiais. Doada para a Biblioteca em 1994 pela neta do colecionador, Ana Maria Barreto de Almeida, a maioria dos documentos é composta de manuscritos, como a nomeação do Duque de Caxias para o Comando-em-chefe do Exército brasileiro e ofícios expedidos pelo Conde D’Eu, marido da princesa Isabel.
     
    (Fundação Biblioteca Nacional)A coleção se divide em três vertentes: a primeira conta com ofícios expedidos por comandantes brasileiros aos seus superiores ou oficiais sob o seu comando. São 647 cartas, registros, tabelas e quadros que mostram a movimentação militar na Guerra do Paraguai. Por sua vez, as séries Ministérios (com 213 registros) e Presidência de Províncias (com 197) contêm ofícios trocados entre o ministro da Guerra e o ministro dos Negócios Estrangeiros com os presidentes de Província, nos quais é possível entrever as negociações do alto escalão ligado à Guerra do Paraguai.
     
    O militar e historiador Mário Barreto, que dá nome à coleção, serviu ao Exército brasileiro na década de 1920, época em que houve um movimento de revalorização de Solano Lopes no Paraguai. De acordo com Ricardo Salles, nesse mesmo momento foram feitas críticas ao comando e ao desempenho das tropas brasileiras na Guerra. Por conta disso, Barreto se propôs a “derrubar essas críticas, escreveu um livro chamado Lopesguaia e reuniu o acervo”, completa Salles.