Cerca de duas horas separam a pré-história da última década do século XX. A viagem ainda tem várias paradas, como a exploração de ouro e diamantes em Minas Gerais e a abdicação de D. Pedro I. Para ver tudo isso, basta ir ao Museu Histórico Nacional (MHN), no Centro do Rio de Janeiro. O espaço passou por uma série de reformas, sua exposição foi renovada e as últimas galerias foram abertas em novembro de 2010. O museu ainda guarda uma surpresa: este mês, sua coleção de moedas será a primeira da América do Sul a ser publicada como Sylloge Nummorum Graecorum, título concedido pelo Conselho Internacional de Numismática.
“Eu me casei com este museu. Aliás, foi uma relação de sacerdócio. Eu dormia e acordava aqui todos os dias, até inaugurar a última galeria”, brinca a diretora Vera Tostes. O trabalho resultou em uma linha do tempo muito mais extensa que a do acervo exposto anteriormente, que se concentrava quase toda no século XIX. Além disso, foram expostos objetos que estavam escondidos havia anos, como o avental, o espadim, a faixa e o martelo da maçonaria que pertenceram a D. Pedro I. “Fizemos também aquisições de artigos indígenas, e já vínhamos coletando desde a década de 1980 algumas peças mais recentes”, conta a diretora.
Quem vê as paredes em cores vivas, as novas peças e até obras contemporâneas, como os quadros em 3D sobre as missões jesuíticas, imagina que foi necessário bastante tempo para organizar tudo. Mas não tem ideia de que o museu contou até com a força de marinheiros. “Um batalhão quase inteiro da Marinha teve que trazer as correntes de navio expostas, porque são muito pesadas. Também tivemos outras dificuldades. Passamos semanas resolvendo o que faríamos com dois quadros de épocas diferentes que só cabiam na mesma galeria”, diz Vera.
O estudo da coleção de moedas não foi mais simples. Maricí Magalhães, historiadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), passou quatro anos atualizando as classificações e fazendo novas fichas com os dados das 1.750 moedas selecionadas. “Tinha mais de 1.900 peças, mas algumas não estavam em bom estado ou eram de épocas que não se encaixam na categoria, que só inclui moedas gregas ou inspiradas na cunhagem delas”, explica a historiadora. A coleção é a maior da América do Sul e está em exposição no MHN. Ela tem peças que vão desde o século VII a.C. até o fim do século III d.C..
“O museu tem um acervo muito diversificado, mas a importância dele começa na própria criação, pois foi nosso primeiro grande museu de História e surgiu na época do centenário da Independência. Naquele momento surgia a geração que repensaria a nossa História”, lembra Marcos Sanches, historiador da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Desde então, o MHN só aumentou seu acervo, que hoje corresponde a 67% das coleções dos museus do Ministério da Cultura.
Leia mais sobre a coleção de moedas do MHN em www.rhbn.com.br/moedas
Museu Histórico Nacional
Praça Marechal Âncora, s/nº – Centro, Rio de Janeiro.
www.museuhistoriconacional.com.br
Viagem no tempo
Cristina Romanelli