Vida de arqueólogo

Luciano Figueiredo

  • Vida de arqueólogo não é fácil. No Brasil, embrenhando-se em busca de rastros do passado, ele come poeira, atola na lama e tem que estar pronto para escapar de imprevistos que podem aparecer no caminho, como onças. Também deve estar preparado para carregar peso. Sua incursão não pode ser feita sem pá e enxada, por exemplo. A roupa tem que ser simples, mas é bom usar perneira grossa porque calça jeans é muito frágil para os dentes de uma cobra. Na hora da refeição, qualquer marmita vale a pena. E banheiro? Nem pensar.

    Mas essas dificuldades são muito pequenas perto do maior desafio do ofício: investigar o que está praticamente invisível, muito bem escondido por séculos de distância e até milênios. Esta edição traz uma série de artigos que comprova como a arqueologia é um campo fértil no Brasil, capaz de causar inveja a qualquer caçador de tesouro do cinema. Escavações feitas no Piauí provam que o homem chegou à América há pelo menos 50 mil anos, como mostra o artigo de Astolfo Araújo. Já Gilson Rambelli e Luciana Novaes, que se aventuram na arqueologia subaquática, chamam a atenção para as revelações de um navio negreiro naufragado na costa brasileira. Quanto ao crânio mais antigo da América, Luzia, alcançou um sucesso espantoso na mídia nos Estados Unidos, segundo Walter Neves.

    Na seção Leituras, está uma combinação que bem pode ser considerada um achado. Laura de Mello e Souza fala como o livro Cultura e opulência no Brasil passou da situação de proibido a tesouro guardado a sete chaves. E Andreé Mansuy-Diniz Silva conta quem foi o misterioso autor da obra rara, mais conhecido pelo pseudônimo André João Antonil. Prova de que, na História do Brasil, as preciosidades podem estar por toda parte, do subsolo às bibliotecas.